O novo mapa cor-de-rosa

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"Ter medo do voto é ter medo da democracia", afirmou, neste domingo, o Presidente da República já depois de ter votado. O apelo ao voto da parte do Presidente da República e de todos os partidos resultou. Estas foram as eleições mais participadas da última década. A abstenção ficou pouco acima dos 42%, em vez dos 51,43% registados em 2019.

António Costa foi o grande vencedor da noite eleitoral. Não acusou o desgaste governativo de seis anos, dos quais dois em plena pandemia. Os portugueses terão valorizado os apoios para enfrentar a crise da covid-19, como o lay-off, por exemplo, bem como o esforço do Serviço Nacional de Saúde. Na prática, preferiram jogar na estabilidade e apostaram no líder que já conhecem. Ao mesmo tempo, os portugueses deixaram claro o que não querem: nem geringonças de esquerda nem geringonças de direita. Com a maioria absoluta agora conquistada, António Costa poderá igualar o tempo de Cavaco Silva como primeiro-ministro: dez anos no poder em São Bento. Além disso, pode ultrapassar Guterres e Sócrates em longevidade no executivo, mas desta vez Costa segue a solo.

Na campanha, o líder do PS ganhou votos quanto traçou uma linha vermelha em relação ao Chega. Rio, pelo contrário, perdeu votos ao tardar em distanciar-se. O PSD, enquanto partido essencial e fundador da democracia, foi criticado por não ter feito como o seu congénere alemão, que ergueu um muro claro com a extrema-direita. Ou seja, coligações sim - e no caso germânico trata-se de uma ousada coligação semáforo - , mas nunca com a extrema-direita. Além disso, a tentativa de Rio de arrastar o PSD do centro-direita para o centro provou, pelos resultados eleitorais, ter sido uma estratégia falhada.

Na expectativa de garantir um futuro estável, António Costa e Rui Rio apostaram forte no apelo ao voto útil. Esse apelo - mais ouvido à esquerda do que à direita -, vitimizou partidos como o BE, o PCP e o CDS. Nos próximos meses antecipam-se crises nestas famílias políticas e alterações nas suas lideranças.

Ainda entre os pequenos partidos, o Chega subiu, como era expectável, mas a grande surpresa da noite foi a Iniciativa Liberal, que fez uma campanha eficaz e captou a atenção dos quadros urbanos e dos mais jovens.

São muitas as forças políticas com assento parlamentar, o que cria uma geometria parlamentar variável, mas pouco, já que a posição socialista esmaga os restantes partidos.

Há um novo mapa cor-de-rosa que é resultado da maioria absoluta e traduz a vontade do povo português, e essa vontade mostra que o povo não quis mudar de governo, mas quis claramente mudar de parlamento. Também poderá haver uma certa mudança em Belém, uma vez que exercer a magistratura de influência pelo Presidente da República poderá ser um exercício mais difícil e requerer ainda maior inteligência e resiliência.

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