O novo espírito do Álamo à conquista da América
Rodeado de lojas e restaurantes, o forte Álamo recebe todos os dias centenas de visitantes. Se a fachada de pedra do convento espanhol do século XVIII não impressiona, no interior relíquias como o punhal de David Crockett emocionam qualquer patriota americano. Crockett foi um dos 180 texanos massacrados em 1836 pelo exército mexicano, após um cerco de 13 dias. Apesar de derrotados, os homens do Álamo fazem parte dos mitos da República do Texas, independente até 1845, data da adesão aos EUA. «Lembrem-se do Álamo» é hoje um grito de guerra usado pelos soldados americanos.
Bexar County, onde fica San Antonio, a cidade do Álamo, votou nestas presidenciais 55% a favor de George W. Bush. Um apoio claro à reeleição do Presidente, mesmo assim abaixo da votação que o Texas no seu todo ofereceu ao republicano Bush - 61%, quase dois milhões de votos a mais que ao democrata John Kerry.
O Express News de San Antonio explicava a vitória de Bush pela importância do valores morais. Temas como o aborto, o casamento homossexual e a defesa da família estiveram no centro da campanha e beneficiaram o candidato mais conservador, que é o reflexo do seu estado. «O Texas é conservador. Candidatos liberais podem vencer em pequenas áreas, mas todos os cargos importantes estaduais são ocupados por conservadores», explica ao DN Randolph B. Campbell, autor do livro Gone to Texas.
«Bush é um homem com uma moral forte. Conhecemo-lo muito bem desde que foi governador», afirma Scott Beaslan, um texano que admite votar sempre republicano. Apesar de nascido na Nova Inglaterra, Bush assume-se como um «homem simples do Texas», onde fez carreira no petróleo e depois como gestor da equipa de basebol dos Texas Rangers. Em 1994 foi eleito para governador estadual com base no seu «conservadorismo com compaixão», que lhe valeu depois a presidência em 2000 e agora esta reeleição.
San Antonio foi fundada em 1731 por espanhóis e depois da independência mexicana viu o seu convento transformar-se num quartel de cavalaria, o forte Álamo. Hoje, mais de metade da população é de origem mexicana. Muitos dos votos de Kerry em Álamo vieram dos hispânicos, «que tradicionalmente votam nos candidatos democratas», nota Jorge Herrera, coordenador da campanha democrata no Texas. Aliás, com excepção de Austin, foi na faixa fronteiriça ao México que Kerry se destacou no Texas. Mas Bush, que fala um pouco de espanhol e tem uma cunhada mexicana, tem sabido cativar cada vez mais hispânicos.
O seu sobrinho meio hispânico George P. Bush, advogado em Dallas, tem sido um porta-voz junto desse eleitorado católico e conservador. E os resultados já se sentem. Nas presidenciais, Bush obteve no Texas 44% do voto hispânico.
«O voto hispânico é cada vez mais decisivo», admite Herrera, esperando mantê-lo nas fileiras democratas. Mas os republicanos ambicionam, com a ajuda de Bush na Casa Branca, convencer os Tex-Mex a aderir à sua ideia de América. As estimativas demográficas dão em 2020 os texanos de origem mexicana em maior número que os anglos.
«Não é ainda claro o que o aumento da população hispânica vai significar para o Texas. Alguns temem que mude a identidade do estado, mas outros notam que o Texas sempre teve influência hispânica. Além do mais, muitos hispânicos tendem a ser conservadores e isso não vai alterar a política dominante actual. Além disso, os texanos de origem mexicana sentem orgulho no seu estado, que vêem também como especial», afirma o historiador Campbell.
O espírito do Álamo tem também a sua versão rebelde, representado nestas presidenciais pelo texano Michael Badnarik, que foi candidato do Partido Libertário em 48 dos 50 estados. O seu director de campanha, Wes Benedict, lembrou ao DN que «se o Texas é conservador, também tem uma tradição libertária, que defende menos intervenção do governo, impostos mais baixos, liberdade de expressão e comércio livre. É o Texas e a América que defendemos».