O novelo
Faltam mais de três meses para as eleições legislativas, tempo mais do que suficiente para o panorama que hoje existe, independentemente da perspetiva, se alterar substancialmente.
No entanto, há um desafio que todos os partidos, sobretudo o PSD, vão ter de enfrentar: a poderosa máquina de propaganda socialista. Não só na sua vertente de controlo da narrativa política, mas também na capacidade de distorção das propostas da oposição.
Não é a primeira vez, e não será certamente a última, que as propostas apresentadas pela oposição enfrentam um intenso escrutínio mediático. A tática é simples, a medida não pode sobreviver mais do que 24h como válida e tem de ser envolta em polémica. Normalmente com três pontos básicos: não fizeram as contas e não sabem onde vão buscar o dinheiro; a medida não é confiável porque no passado governaram em sentido contrário; o Governo já acautelou a situação com a iniciativa x ou tem uma proposta ainda "melhor" a apresentar. Tudo pela rama, muito superficial, para confundir. Objetivo e eficaz como o mundo imediatista em que hoje vivemos.
Ora, não podemos dizer que isto não tem funcionado. Não só pelos resultados eleitorais alcançados pelo PS, mas também pela resistência do Governo a todo o tipo de polémicas. Se há capacidade política que António Costa tem é o de torcer o conceito de responsabilidade política e exacerbar os méritos da sua governação. Por outro lado, não há como negar que uma parte substancial da sua longevidade no poder é a constante tentativa de desacreditar adversários políticos. É mesmo esta uma das suas especialidades.
Muito se tem falado das legislativas de 22 e no "falhanço" das sondagens. Qualquer português atento e preocupado com o fenómeno político, e que não esteja alheado da realidade, aceita que as últimas legislativas poderiam ter tido um resultado diferente. E esse resultado ser uma vitória do PSD. Não é necessário ouvir o spin doctor da última campanha socialista para perceber a alteração na estratégia de campanha, a relação com a rua e com o cenário pandémico, com o posicionamento face às propostas do PSD à data.
A forte e intensa intoxicação nas duas semanas de campanha sobre a relação com o Chega, a sustentabilidade da Segurança Social, a relação público privado no SNS, a prioridade na baixa de impostos IRS vs IRC, só tiveram um objetivo: amedrontar o eleitorado e criar desconfiança em relação às propostas do PSD.
Vem isto a propósito do último Congresso do PSD, em que Luís Montenegro elencou algumas das prioridades do programa eleitoral e lançou medidas concretas.
Tudo o que se seguiu em relação à proposta do Complemento Solidário para Idosos é um remake do que aqui referi em relação às legislativas de 22. E não fica por aqui, teremos isto sobre os temas que o focus group socialista escolher como prioritários para 10 março.
O PSD não pode falar de pensões. Mas na verdade não pode falar só de pensões, não pode falar de nenhuma área da governação. Só o PS é confiável e está habilitado fazê-lo. Este é o mantra estratégico da comunicação deste PS, um PS tão habituado a governar que se confunde com o Estado.
Entendo, por tudo isto, que este é o maior desafio que enfrentamos nestas eleições. Desfazer este novelo tático-comunicacional e conseguir passar uma mensagem alternativa e de diferenciação.
Deputado do PSD