"O nosso trabalho é encontrar alternativas biológicas aos químicos"

O trabalho no Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho envolve várias investigações. Lígia Rodrigues já realizou outros trabalhos fora do âmbito do MEOR, projeto que tem sido dos mais duradouros
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Esta investigação já gerou a atenção de outros agentes do setor petrolífero?
O projeto tem suscitado interesse de outras empresas, querem saber mais sobre o que temos feito. Mas nós temos uma colaboração já longa e boa com a Partex. Devemos confidencialidade, mas a Partex permite a publicação dos resultados das nossas investigações e isso gera interesse da indústria que se move nestes campos. Encontram os artigos e querem perceber um pouco melhor se serve para os problemas deles.
Além do petróleo, o grupo dedica--se a que outras áreas?
O petróleo é só uma parte. Dentro do grupo há pessoas que se dedicam à biotecnologia industrial, muito olhar para os bioprocessos, para os micro-organismos - que são sempre o nosso ponto de partida. Estamos a trabalhar na área dos biosulfatantes. A Ana Isabel Rodrigues está a olhar para a aplicação nos pesticidas, para resíduos de outras indústrias que possam ser utilizados como matéria-prima para os micro-organismos produzirem estes biosulfatantes, numa ótica de economia circular e de rentabilização do processo.
E também em ligação com empresas?
Neste momento, não. Já tivemos um projeto com a Quimitécnica, para aplicação em detergentes, em que estivemos três anos a desenvolver estes bioprocessos, economicamente mais viáveis para produzir estes compostos para serem incorporados em produtos finais. Na investigação em curso, é para criar biopesticidas, sem substâncias tóxicas e que são biodegradáveis. Mais uma vez estamos a tentar encontrar alternativas aos químicos com soluções biológicas. A filosofia é olhar para lixo, para resíduos que os outros já não querem como matéria-prima. Já tive também um projeto com a Johnson & Johnson para a produção de champôs.
Como é que chegaram à vossa equipa?
Foi engraçado. A Universidade do Minho foi pioneira na questão dos repositórios, ou seja, da colocação das teses em repositório e com acesso aberto aos nosso trabalhos. Foi muito curioso porque doutorei-me em novembro de 2005 e em fevereiro de 2006 recebi aqui uma chamada de um americano a dizer que tinha visto a minha tese e estava muito interessado. Durante dois anos estivemos a desenvolver trabalho para a Johnson & Johnson, também nesta área destes compostos.
A Partex é o mais constante?
Sim. Também devo dizer que o montante de financiamento por ano é mais baixo, mas por ser continuado equivale.
O petróleo e a sua exploração ainda vai durar?
Na minha opinião, sim. Vamos sempre precisar do petróleo. Por muito esforço e muito investimento que exista no desenvolvimento de soluções alternativas do ponto de vista energético, vamos estar sempre dependentes - a indústria química suporta-se no petróleo. Neste momento, os preços estão a baixar e não é muito atrativo, mas isto são movimentos cíclicos. As energias renováveis podem ser uma parte significativa, mas não vão ser suficientes para baixar o interesse no petróleo. Vai manter-se sempre, a menos que politicamente seja imposto a nível global. Mas isso teria um impacto grande a todos os níveis.

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