O nó górdio português...

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Se os compromissos assumidos pelo Governo de Portugal para que a troika fechasse o 7.º exame regular ao programa de assistência económica e financeira se traduzirem sem mais em medidas no OE 2014, o crescimento económico no próximo ano será cortado em mais de 70% da sua meta potencial. Ou seja, a economia vai estagnar, depois de três anos a retrair-se. Este resultado não corresponde às metas enunciadas pela maioria para sinalizar a entrada em novo ciclo económico de crescimento e subida do emprego.

O nó górdio, que a nova política económica terá de saber desfazer, é o de conseguir contornar a forte restrição financeira às contas públicas e à atividade económica, em geral. Contra a ideologia preponderante tanto no PSD como no CDS-PP de conseguir reduzir o mais possível a despesa pública corrente sem juros, para que a nova equipa da Economia possa apresentar resultados capazes de animar uma incipiente retoma é preciso estender por vários anos os ganhos de racionalização no funcionamento do Estado português, em vez de concentrar três quartos dos cortes pretendidos já no próximo ano.

Mas isso só será possível se a Comissão Europeia (CE) assim quiser - o FMI parece estar ganho para este abrandamento das medidas de austeridade. A CE vê surgirem os primeiros sinais de reanimação económica na Alemanha e na França, o que anuncia a aproximação do fim da recessão na Zona Euro. Criar as condições para que os países com programa de assistência possam tirar pleno partido desse impulso de retoma na Europa não pode ser alheio ao próximo exame da troika, em setembro.

Assim o queira também o Governo português, que diz ter chegado agora a hora da economia.

... e o bom vento europeu

Os índices económicos e as siglas que os designam costumam dizer pouco à maioria das pessoas, mas nem por isso deixam de merecer atenção: é o caso do PMI, do gabinete Markit, que afere a intensidade da atividade privada e revela que esta atingiu o seu ponto mais alto na Zona Euro em 18 meses. Trata-se da quarta subida mensal consecutiva, com o PMI a fixar-se nos 50,4 pontos, o que, traduzindo para leigos, significa que a atividade privada deixou de se contrair, dado que o limiar se situa nos 50 pontos.

O principal economista do Markit liga as boas notícias a um claro aumento da produção industrial sobretudo na Alemanha, a locomotiva da União Europeia. Também na França, o outro gigante económico dos países da moeda única, a recuperação industrial está a melhorar, o que significa que não se trata de uma situação isolada e permite esperar que também o sector dos serviços recupere.

A interpretação possível destes dados do PMI é que a recessão na Zona Euro está à beira de acabar. Claro que as economias estão a recuperar a ritmos diferentes e não se pode comparar uma Alemanha, que não chegou a estar no vermelho, com Portugal, que há três anos vê o PIB minguar. Mas tendo em conta que três quartos das nossas exportações são para a União Europeia é evidente que bons ventos nos nossos parceiros sopram a nosso favor. O desafio do Governo PSD/CDS é ser capaz de os aproveitar.

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