O neto da luso-francesa e o refugiado chinês de Macau

Arthur Hanse (esqui alpino) e Kequyen Lam (esqui de fundo) são os dois atletas que vão defender as cores nacionais nos Jogos Olímpicos de Inverno a partir do dia 9.
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A comitiva portuguesa parte hoje rumo a PyeongChang 2018, com três treinadores e dois atletas. Arthur Hanse, em esqui alpino, e Kequyen Lam, em esqui de fundo, são os dois representantes lusos nos Jogos Olímpicos de Inverno, que se realizam na Coreia do Sul de 9 a 25 de fevereiro.

Pela primeira vez, Portugal qualificou atletas em duas modalidades. Mas quem são afinal estes dois esquiadores que vão representar o país de sol e mar nos jogos da neve? Arthur Hanse nasceu em Paris e vive em Lyon; Kequyen Lam é natural de Macau e residente no Canadá.

Os pais de Kequyen Lam eram chineses e viviam no Vietname, mas tiveram de fugir da guerra sino- vietnamita (anos 1970/80) num pequeno barco para Macau, então território português. Foram acolhidos num centro para refugiados, onde Kequyen nasceu e cresceu até os pais se mudarem para o Canadá. Foi lá que se apaixonou pelos desportos de inverno.

Obteve a nacionalidade portuguesa em 2006 e começou a representar Portugal em provas internacionais de snowboard, entre 2008 e 2013. Já tinha tentado a qualificação para Sochi 2014, mas uma fratura no ombro durante um estágio impediu-o de disputar as últimas cinco etapas de apuramento.

Em 2015, decidiu "desafiar-se a si próprio" e tentar PyeongChang 2018, numa outra modalidade, o esqui de fundo. "Era uma ideia louca, porque eu sempre fui um atleta com capacidade para provas de curta duração. Tive de adaptar o meu sistema fisiológico e desenvolver a capacidade aeróbica para conseguir correr provas de resistência. A ideia nasceu, os objetivos foram estabelecidos e o sonho floresceu", confessou à Lusa o representante português na prova de cross-country (esqui de fundo).

Foi então que o farmacêutico, de 38 anos, pediu à Federação (FPDI) que requeresse a alteração da acreditação para o esqui de fundo junto da Federação Internacional de Esqui. Fez a primeira prova em dezembro de 2015 e depois de dois anos e meio de "trabalho árduo" conseguiu o apuramento.

Agora, prepara-se para entrar em ação nos 15 quilómetros de esqui de fundo (16 de fevereiro) e cumprir um sonho com mais de 20 anos: "O sonho de participar nos JO surgiu em 1998 quando Ross Rabagliati ganhou o ouro para o Canadá." Vivo está o desejo e a ambição de "inspirar Portugal" e contagiar futuros esquiadores, tal como ele influenciados por Dany Silva (Turim 2006 e Vancouver 2010), que defendeu as cores nacionais no cross-country. O objetivo é melhorar o 93.º lugar de Dany Silva.

Aconselhado pela avó

Arthur Hanse é descendente de emigrantes portugueses em França: "Foi a minha avó, que nasceu em França, mas tem nacionalidade portuguesa, que me aconselhou a contactar a federação portuguesa para competir por Portugal." Foi isso que fez em 2012. Obteve a nacionalidade portuguesa e começou a dividir-se entre Paris- Lyon-Lisboa e Covilhã. "Orgulhoso das raízes portuguesas", Hanse vai para os segundos Jogos da carreira, depois de Sochi 2014. E o secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, espera que, desta vez, "faça a segunda manga um pouco mais devagar"do que nos últimos Jogos, para não falhar tantas bandeirinhas. Hanse vai competir no dia 18, em slalom gigante, e a 22 em slalom.

"As nossas ambições são do tamanho das nossas pernas, não são do tamanho dos nossos sonhos, porque nesse caso seriam muito maiores. Temos de ter a noção do país que temos e das condições que demos a estes atletas para se prepararem. Tudo isso são questões que influenciam toda a qualificação e a prestação dos atletas", avisou Pedro Farromba, presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal e chefe de missão.

Pela primeira vez a missão olímpica teve apoios governamentais, via Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Facto enaltecido por José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico, ontem, na cerimónia da apresentação, que não contou com Kequyen, devido a atrasos nos voos desde Toronto.

Ao todo foram dez os atletas presentes na preparação olímpica para PyeongChang 2018, em disciplinas como o snowboard, o luge, o esqui e o esqui de fundo. Hugo Alves, residente no Japão, no luge, e Christian Oliveira, luso-australiano de 18 anos a residir nos EUA, no snowboard, ficaram perto da qualificação.

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