Está instalada alguma euforia nas relações entre Angola e Portugal, a que não é alheio, seguramente, o facto de Portugal ter um presidente "conquistador" fácil de gostar e de Angola, por coincidência, estar a viver um novo ciclo político e com um presidente que, apesar de não ser muito expansivo, também exala charme político..Nos nossos dias, um político que se apresente comprometido com o bem-estar do seu povo e contra práticas que o prejudiquem conquista qualquer sociedade. João Lourenço é o homem que é inspirador, sobretudo nestes tempos em que fica cada vez mais patente que não há sociedade sem corrupção e as elites políticas, sociais, económicas e não raro até as culturais estão tomadas pelo mal. Lourenço promete uma nova era, uma nova forma de estar na política - esperamos assim ser..Aos angolanos agrada o intelecto, a facilidade de comunicação, a inteligência enorme e a capacidade de estabelecer pontes de Marcelo Rebelo de Sousa ,"Ti Celito". Confesso meu prazer e o de tantos meus compatriotas quando vemos Marcelo, acabado de aterrar em Luanda, correr para a praia do Bispo para ver o velho Carnaval luandense. E os portugueses estão esperançosos com João Lourenço..Tornou-se fácil, portanto, até pelo pragmatismo dos dois homens, ultrapassar todos os problemas anteriores, incluindo o famoso irritante que vinha da época de José Eduardo dos Santos e prolongado no consulado de João Lourenço, inclusive aquele pequeno sinal, mas altamente significativo, em termos políticos, de na sua posse Lourenço não ter citado Portugal como país prioritário nas relações externas de Angola estando Marcelo Rebelo de Sousa presente e tendo recebido dos angolanos uma calorosa manifestação de apreço e de irmandade..Posto isto, e já vamos ao tal negócio esquecido, os dois países entraram numa velocidade diplomática de aproximação nunca antes vista. Começaram as trocas de encontros. António Costa, primeiro-ministro de Portugal, visitou Angola, João Lourenço foi a Portugal e, agora, Ti Celito visita Angola. Com tudo isto, também se multiplicam as declarações de governantes e da sociedade civil sobre uma nova paixão, que sempre foi a mesma, de resto..Contudo, os problemas nesta estrada parecem resolvidos, ou ultrapassados, contornados. A dívida de Angola a empresas portuguesas, ao que se diz, é assunto quase do passado, embora nunca se fale em eventuais dívidas de Portugal ou de empresas portuguesas com Angola. Fala-se do contributo português no crescimento de Angola (e a economia angolana parece começar a reerguer-se), mas não se fala do contributo angolano no crescimento de Portugal, económico e cultural. Fala-se na formação de quadros angolanos e não se fala na formação de quadros portugueses em Angola (o bom desempenho das tropas portuguesas na República Centro-Africana, teria sido ainda melhor se elas se adaptassem com camaradas angolanos). E já estou a entrar na tal questão do negócio esquecido..Mas antes devo relembrar a eleição de António Guterres, com uma campanha numa altura em que Angola fazia parte do Conselho de Segurança da ONU e exerceu uma atividade diplomática importante quer na ONU quer na União Africana e na SADC. Já perceberam de que negócio se trata? Tem mais..Desde a sua independência que Angola se bateu para que a língua portuguesa fosse reconhecida como língua de trabalho na ONU e nas suas agências, assim como na União Africana e em todas as organizações multilaterais em que participa. Bem, é isso mesmo: o negócio da raiz comum de afirmação. Aquele aspeto em que portugueses e angolanos partilham a mesma nacionalidade, como diria Pessoa: a língua portuguesa....Depois de se falar de dinheiro, de dívidas, de parcerias de todo o tipo, quero apostar que rapidamente os dois países, com presidentes que se dão tão bem, passem rapidamente a cuidar de si. Ou seja, daquilo que são: falantes da mesma língua e com culturas largamente partilhadas nos hábitos e costumes..Espero deles, e sei que o farão, um grande envolvimento na promoção cultural dos dois países, na música, no teatro, nas ates plásticas, na gastronomia e na literatura. Os dois presidentes sabem que Angola e Portugal são os melhores interlocutores um do outro. Ninguém se ouve melhor, ninguém lhes fala mais francamente e com ninguém mais se podem arreliar (ou irritar) sabendo que os laços nunca se quebrarão..Sim, o negócio esquecido na euforia destes dias, talvez por dado como adquirido, mas que precisa de investimento, é exatamente o das pessoas que partilham sangue, manias, cultura e que têm tudo isto irremediavelmente amarrado pela língua comum..Diretor do jornal O País
Está instalada alguma euforia nas relações entre Angola e Portugal, a que não é alheio, seguramente, o facto de Portugal ter um presidente "conquistador" fácil de gostar e de Angola, por coincidência, estar a viver um novo ciclo político e com um presidente que, apesar de não ser muito expansivo, também exala charme político..Nos nossos dias, um político que se apresente comprometido com o bem-estar do seu povo e contra práticas que o prejudiquem conquista qualquer sociedade. João Lourenço é o homem que é inspirador, sobretudo nestes tempos em que fica cada vez mais patente que não há sociedade sem corrupção e as elites políticas, sociais, económicas e não raro até as culturais estão tomadas pelo mal. Lourenço promete uma nova era, uma nova forma de estar na política - esperamos assim ser..Aos angolanos agrada o intelecto, a facilidade de comunicação, a inteligência enorme e a capacidade de estabelecer pontes de Marcelo Rebelo de Sousa ,"Ti Celito". Confesso meu prazer e o de tantos meus compatriotas quando vemos Marcelo, acabado de aterrar em Luanda, correr para a praia do Bispo para ver o velho Carnaval luandense. E os portugueses estão esperançosos com João Lourenço..Tornou-se fácil, portanto, até pelo pragmatismo dos dois homens, ultrapassar todos os problemas anteriores, incluindo o famoso irritante que vinha da época de José Eduardo dos Santos e prolongado no consulado de João Lourenço, inclusive aquele pequeno sinal, mas altamente significativo, em termos políticos, de na sua posse Lourenço não ter citado Portugal como país prioritário nas relações externas de Angola estando Marcelo Rebelo de Sousa presente e tendo recebido dos angolanos uma calorosa manifestação de apreço e de irmandade..Posto isto, e já vamos ao tal negócio esquecido, os dois países entraram numa velocidade diplomática de aproximação nunca antes vista. Começaram as trocas de encontros. António Costa, primeiro-ministro de Portugal, visitou Angola, João Lourenço foi a Portugal e, agora, Ti Celito visita Angola. Com tudo isto, também se multiplicam as declarações de governantes e da sociedade civil sobre uma nova paixão, que sempre foi a mesma, de resto..Contudo, os problemas nesta estrada parecem resolvidos, ou ultrapassados, contornados. A dívida de Angola a empresas portuguesas, ao que se diz, é assunto quase do passado, embora nunca se fale em eventuais dívidas de Portugal ou de empresas portuguesas com Angola. Fala-se do contributo português no crescimento de Angola (e a economia angolana parece começar a reerguer-se), mas não se fala do contributo angolano no crescimento de Portugal, económico e cultural. Fala-se na formação de quadros angolanos e não se fala na formação de quadros portugueses em Angola (o bom desempenho das tropas portuguesas na República Centro-Africana, teria sido ainda melhor se elas se adaptassem com camaradas angolanos). E já estou a entrar na tal questão do negócio esquecido..Mas antes devo relembrar a eleição de António Guterres, com uma campanha numa altura em que Angola fazia parte do Conselho de Segurança da ONU e exerceu uma atividade diplomática importante quer na ONU quer na União Africana e na SADC. Já perceberam de que negócio se trata? Tem mais..Desde a sua independência que Angola se bateu para que a língua portuguesa fosse reconhecida como língua de trabalho na ONU e nas suas agências, assim como na União Africana e em todas as organizações multilaterais em que participa. Bem, é isso mesmo: o negócio da raiz comum de afirmação. Aquele aspeto em que portugueses e angolanos partilham a mesma nacionalidade, como diria Pessoa: a língua portuguesa....Depois de se falar de dinheiro, de dívidas, de parcerias de todo o tipo, quero apostar que rapidamente os dois países, com presidentes que se dão tão bem, passem rapidamente a cuidar de si. Ou seja, daquilo que são: falantes da mesma língua e com culturas largamente partilhadas nos hábitos e costumes..Espero deles, e sei que o farão, um grande envolvimento na promoção cultural dos dois países, na música, no teatro, nas ates plásticas, na gastronomia e na literatura. Os dois presidentes sabem que Angola e Portugal são os melhores interlocutores um do outro. Ninguém se ouve melhor, ninguém lhes fala mais francamente e com ninguém mais se podem arreliar (ou irritar) sabendo que os laços nunca se quebrarão..Sim, o negócio esquecido na euforia destes dias, talvez por dado como adquirido, mas que precisa de investimento, é exatamente o das pessoas que partilham sangue, manias, cultura e que têm tudo isto irremediavelmente amarrado pela língua comum..Diretor do jornal O País