O negócio 'alucinante' dos cogumelos mágicos

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Dois jovens casais de estudantes "descem" o antigo IP5 vindos de Viseu, numa viagem agora mais rápida e segura por força da transformação em auto-estrada. O destino é o velho centro comercial Oita, em Aveiro, a meio da Avenida Lourenço Peixinho. Sobem as escadas até ao terceiro piso, onde funciona a loja mais "badalada" da cidade dos canais. É a primeira visita que o grupo faz à smart shop Cogumelo Mágico, de que já ouviram falar muito desde que abriu, com grande estrondo, a 8 de Fevereiro.

Após um olhar rápido, deixam-se cativar pelas coloridas embalagens de happy caps. Estas pastilhas alucinogéneas são dos produtos com mais saída na loja licenciada como "ervanária especializada", que afinal vende "drogas legais". "Deveriam fazer um referendo sobre o consumo de drogas", dispara uma das jovens, mais afoita a falar, confessando-se "apologista da legalização". Para elas, a curiosidade que motivou a viagem a Aveiro desvanece ao fim de alguns minutos e não resistem a descer para vasculhar uma loja de bijutaria. Prometem voltar.

Os rapazes, esses, deixam-se ficar mais algum tempo a trocar impressões sobre os preços dos múltiplos acessórios para preparar "drogas leves". Um deles, consumidor "casual" de erva, acha "um bocado puxado". O mais certo é optarem por levar alguma algerian blend para fumar. São, de resto, as ervas preferidas dos clientes de Carlos Marabuto. O empresário de 42 anos trouxe a ideia de abrir a smart shop das suas andanças pelo estrangeiro, inspirando-se da vivência na cidade holandesa de Amsterdão. No regresso a Aveiro, de onde é natural, começou por instalar uma sex shop.

Um mês após a abertura da Cogumelo Mágico, fala seu novo negócio com um sorriso de orelha a orelha. No fim da primeira semana, o sucesso foi tal que teve de fechar por falta de stock. "Agora tende a normalizar, mas não nos podemos queixar", conta entusiasmado com a perspectiva de amortizar o investimento inicial (cerca de 25 mil euros) até ao Verão, bem mais rápido do que esperava.

Aos indecisos que ali chegam, deixa sempre uma palavra de aconselhamento. Seja de carácter técnico, para a correcta preparação das drogas, ou elucidando sobre os efeitos: "Que tipo de trip quer ?", questiona, abeirando-se de um cliente.

"Mais de mil pessoas de todo o País e até alguns estrangeiros" passaram pela loja nestas primeiras semanas. A maioria são jovens "dos 25 aos 35 anos", mas também passam por lá "outros mais entradotes". A facturação fica no segredo da contabilidade, mas Carlos Marabuto relativiza os ganhos: "Isto deu para criar dois postos de trabalho." Quando tiver o site a funcionar, espera ainda ter mais saída de produtos.

No topo das vendas, estão kits de sementes de cogumelos alucinógenos, extractos de erva sálvia, pastilhas, cactos e plantas de ayahuasca. O dono da smart shop não se deixou intimidar pela busca da Polícia Judiciária, feita no dia seguinte à abertura. Os produtos com referências a cannabis, marijuana ou DMT foram apreendidos e enviados para análises, desconhecendo-se os resultados da diligência. A literatura foi devolvida. O mais surpreendente, pela negativa, são "referências pouco abonatórias" em fóruns online de movimentos ligados à extrema-direita. "Nada que nos assuste", ressalva.

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