O MIMO, que é um festival, está de regresso a Amarante

Arranca hoje a segunda edição de um festival que traz ao Norte músicos de primeira água. A organizadora, Lu Araújo, faz as honras
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O meteorito musical que caiu em Amarante, no ano passado, foi uma das melhores notícias culturais que houve em Portugal. Apesar de existir uma oferta de entretenimento que se traduz em cerca de duas centenas de festivais à escala nacional, o MIMO diferenciou-se, ao levar para uma pequena cidade do interior um cartaz com propostas como Tom Zé, Pat Metheny ou Vieux Farka Touré, e de acesso gratuito, para um número de espectadores estimado em 24 mil.

Da cratera da primeira edição brotaram as sementes para a segunda, que se inicia hoje e termina nas primeiras horas de segunda-feira, com a atuação de Manel Cruz, o homem à frente de Ornatos Violeta, Pluto, Supernada e, mais recentemente, a solo como Foge Foge Bandido. Mas há mais 16 concertos, um ciclo de cinema, uma masterclass de guitarra, oito oficinas, quatro conversas com artistas, passeios guiados e uma "chuva de poesia".

A responsável por tudo isto não é um corpo celeste, embora tenha o cabelo cor de fogo: Lu Araújo. "Tenho alguma dificuldade em explicar o que é o MIMO. Tem muita coisa que acontece que só vendo", diz a criadora, organizadora e produtora do festival.

"Penso a programação com uma certa construção, com uma certa exclusividade e novidade, senão pode ver esse show em qualquer lugar", prossegue a brasileira que iniciou este festival em Olinda, em 2004. Há muito que Zeca Baleiro sugeria que Lu conhecesse o Porto, mas só há três anos é que a produtora conseguiu. A expansão do festival brasileiro para a Invicta foi hipótese discutida com o então vereador da Cultura Paulo Cunha e Silva. Até que um dia um amigo sugeriu Amarante. E o resto é história.

Como uma mãe perante os seus filhos, do programa desta segunda edição portuguesa Lu Araújo começa por dizer que destaca "tudo". Acaba por falar do cabeça-de-cartaz. "Não posso não destacar o Herbie. Mas não é por ser o Herbie, não. É porque tem um show novo e estou muito a fim de ouvi-lo com o Terrace Martin, esse moleque que ganhou dois Grammys e é produtor de uma galera de hip-hop. Quero entender como é que um cara de 80 anos está se vendo nesse mundo atual. E está experimentando, está cavando o novo disco. Essa tour europeia é um pouco para sentir isso", comenta. Lu Araújo acede e releva "coisas bem especiais". Começa pela londrina Ala.Ni. "Ouço muita música, mas bati. É uma coisa diferente, tem delicadeza e suavidade, moderno mas retro. Eu não consigo definir a Ala.Ni." Prossegue: "Isso de uma ponta da modernidade, na outra, no resgate, amei o disco do Girma Bèyènè & Akalé Wubé. É uma aposta total. O Girma é um grande nome da música etíope, do ethio-jazz, e com mais de 80 anos está a retomar a carreira."

Por fim, Lu Araújo apresenta os compatriotas. "Para Portugal é uma novidade o Macalé. Sou suspeitíssima de falar de Macalé, porque sou fã desde menina. É muito irreverente e importante culturalmente e é muito interessante que aos 72 anos venha pela primeira vez a Portugal. Sobre a Nação Zumbi, recorda que em 2017 passam 20 anos da morte de Chico Science, o guru do grupo de Pernambuco. "O movimento manguebeat foi importante para a música brasileira, dá início a uma nova visão da música pop e traz o Nordeste para a cena, uma coisa contemporânea, um Brasil diferente." Conclui: "Rodrigo Amarante é um cara muito interessante, refugiado em Los Angeles e que está gravando disco novo. E a Céu fez um disco muito conceptual (Tropix), o disco em que deu o passo. Ela entrou como cantora meio MPB, meio pop, depois ficou um pouco por ali. E agora passou a ousar mais." À imagem do MIMO.

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