O melodrama francês de Kristin Scott Thomas

Estreia hoje 'Partir', da francesa Catherine Corsini, interpretado pela actriz inglesa
Publicado a
Atualizado a

Kristin Scott Thomas é um daqueles nomes do cinema contemporâneo cujo charme nos habituámos a associar a produções típicas de Hollywood. Um dos momentos mais altos da sua carreira ocorreu, aliás, com a nomeação para o Óscar de Melhor Actriz em O Paciente Inglês, de Anthony Minghella (o filme foi eleito o melhor de 1996, mas ela não ganhou). O seu nome surge ainda na ficha de em títulos tão marcantes como Missão Impossível (1996), de Brian De Palma, O Encantador de Cavalos (1998), de Robert Redford, Encontro Acidental (1999), de Sydney Pollack, e Gosford Park (2001), de Robert Altman.

O certo é que Kristin Scott Thomas se tem mantido, sobretudo, uma actriz europeia e, por assim dizer, bilingue. Inglesa de nascimento, circunstâncias da sua vida pessoal levaram-na para França no final da adolescência, onde tem vivido desde então (completou 50 anos no passado dia 24 de Maio). A sua já muito longa filmografia é dominada por títulos franceses e ingleses, surgindo no elenco de sucessos como Lua de Mel, Lua de Fel (1992), de Roman Polanski, e Quatro Casamentos e um Funeral (1994), de Mike Newell. Como protagonista de Partir (estreia hoje), Kristin Scott Thomas conseguiu a proeza de ser nomeada em dois anos consecutivos, 2009 e 2010, para os Césares do cinema francês, ambas as vezes em Melhor Actriz (o ano passado, a nomeação foi por Il Y a Longtemps que Je T'Aime, de Philippe Claudel, inédito nas salas portuguesas).

Curiosamente, sendo um filme eminentemente francês, pelos ambientes e pelo estilo, Partir tem como figuras centrais dois "estrangeiros": Kristin Scott Thomas, no papel de Suzanne, uma mulher casada, com dois filhos adolescentes, vivendo em ambiente burguês do sul da França, e o espanhol Sergi López, interpretando Ivan, trabalhador precário que sobrevive na construção civil. A aposta da realizadora Catherine Corsini consiste em filmar a relação entre ambos, não apenas como uma história de "amor louco", mas também como um drama social que coloca em crise todo um sistema de relações familiares e profissionais. Nessa perspectiva, surge como também fundamental a personagem de Samuel (Yvan Attal), o marido de Suzanne: o conflito que vai surgir no espaço conjugal tem tanto de passional como de financeiro, ou seja, envolve os sentimentos, as emoções e o dinheiro.

Corsini, também autora do argumento (com Gaëlle Macé), trabalha num registo melodramático com profundas raízes na tradição francesa, passando por autores tão diversos como Jean Renoir, Max Ophuls e François Truffaut. Existe, aliás, na produção francesa dos últimos anos um impulso no sentido de revitalizar essa tradição, sem nunca perder de vista a possibilidade de retratar os modos de vida do nosso presente. Para Kristin Scott Thomas, essa via teve, recentemente, um novo "desvio" inglês: em Nowhere Boy, de Sam Taylor-Wood, sobre a juventude de John Lennon, ela interpreta Mimi Smith, tia de Lennon, personagem lendária que tutelou a educação do futuro Beatle.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt