O melhor player de música (de que nunca ouviu falar) ficou ainda melhor

Roon é o mais completo e funcional leitor de música digital no mercado, criado por quem é apaixonado por música, ideal para quem tem milhares de ficheiros e põe a qualidade acima de tudo.
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É raro um programa de computador aparecer como "produto recomendado" em praticamente todas as publicações especializadas em áudio, mas há cinco anos que tal acontece com uma aplicação: Roon.

Criado por entusiastas de áudio, músicos e melómanos, Roon surge inicialmente como uma solução para um problema resultante das insípidas playlists da música digital -- a experiência de ouvir música é muito mais do que uma simples lista de títulos.

Questões de qualidade à parte, a relação do melómano com a música tem também um lado visual. A foto de capa do álbum, ou a imagem do artista, muitas vezes contribui quase tanto para o êxito de uma canção ou de um trabalho quanto o que está gravado na pista sonora. (Existe ainda um lado físico nesta equação -- que em parte poderá ter contribuído para o ressurgimento do vinil -- mas isso será assunto para um futuro artigo.)

E o Roon consegue devolver à música digital a experiência de folhear um enorme booklet de um álbum, ou ler a ficha técnica completa de um trabalho, ou ver em pormenor a capa em gatefold de um disco.

A música digital volta a ganhar vida visual. Mas a app não se fica por aqui...

No Roon, mais importante ainda do que a questão visual é a sua enorme base de dados de música. Raros são os discos que o sistema não reconhece -- indo automaticamente buscar títulos, compositores, etc.

A partir daqui, entra a "magia digital" em ação. Sabendo que o músico X tocou no álbum Y, da etiqueta Z, facilmente se cruza esta informação com todas as canções da coleção do utilizador e se descobrem, muitas vezes, grandes surpresas.

Esta capacidade foi extremamente melhorada esta semana, com o lançamento da versão 1.8 do Roon, que mudou drasticamente o aspeto do programa, sendo agora inspirado no "design das revistas de música clássica", como explica Enno Vandermeer, fundador e CEO da Roonlabs, no vídeo explicativo da nova versão.

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O novo Roon utiliza uma tecnologia própria, batizada Valence, que permite ao sistema criar ligações entre a música e os seus intervenientes, entre todos os géneros musicais. Assim, se um trompetista de jazz, por exemplo, participar num tema pop que por sua vez tiver tido uma versão (um "cover") feito mais tarde em "country", em princípio o Roon consegue detetar essas ligações.

O Valence, que os criadores chamam de sistema de inteligência artificial, utiliza estes dados para criar sugestões personalizadas "em mais de 40 formas diferentes", segundo Vandermeer.

Foi ainda criada uma nova abordagem à forma como a "música clássica" é catalogada, de modo a facilitar a seleção de obras -- seja por compositor ou por intérprete. E também, para quem está a iniciar o seu percurso neste mundo, existe um novo sistema de sugestões que pode servir como um interessante "abrir de portas" a esta realidade.

Outra das características do Roon é lidar com a música de serviços terceiros como se estes fizessem parte da sua biblioteca.

Mas apenas dois trabalham com o Roon: Tidal e Qobuz.

Isto porque estes são os dois únicos fornecedores de streaming de música em qualidade de CD ou superior -- e permitem a integração plena das suas bibliotecas. O resultado é que, de cada vez que adiciona como favorito uma faixa ou um álbum do Tidal, por exemplo, este aparece na sua biblioteca como se possuísse esse(s) ficheiro(s) no seu disco rígido pessoal. A integração é tal que, não fosse um pequeno ícone indicativo (que até é desativável), se tornava impossível distinguir entre a música que comprou e a que está a ouvir em streaming.

Desde que seja assinante de um destes serviços, psicologicamente, "ir comprar música" torna-se tão simples quanto estar sentado no sofá (idealmente num tablet ou computador -- o Roon vê-se melhor em ecrãs maiorzinhos, apesar de existir app para telemóvel), ir escolhendo e clicar em "Adicionar à biblioteca" de entre os milhões de faixas disponíveis.

A Apple, por exemplo, não permite este nível de integração dos seus serviços, pelo que é impossível programar este tipo de sistema no Roon.

A arquitetura do Roon varia um pouco do tradicional. Grosso modo, divide-se em duas partes: Server (Core) e Remote.

O Core é o programa que liga a sua biblioteca de música -- os ficheiros que o leitor possui em discos rígidos, USB, etc., mais os seus serviços na nuvem -- ao Remote. Pode ser instalado num computador fixo ou num laptop, Windows ou Mac.

Este pode ser o computador que está ligado ao sistema de som. Mas também pode usá-lo como servidor "puro" e depois ouvir através de um dos vários aparelhos compatíveis com o Roon, se já o tiver -- os "Roon Ready", assim vêm marcados. Por exemplo, sem qualquer ordem específica, Sonos, Cambridge Audio, Bluesound, B&W, Pro-Ject, Oppo, NAD, Naim, Onyko, Pioneer, TEAC, Devialet, Meridian, Ayre, Chord, dCS, Elac, JBL, KEF, Korg, Linn, Mark Levinson, Moon....

Ou em alternativa pode usar um outro computador (fixo ou portátil) como "end point" ligado à sua aparelhagem. Basta instalar nele o programa Roon remote (Windows ou Mac). Esta máquina pode estar numa divisão diferente do Server, só necessita de estar ligado à mesma rede informática (wifi ou por cabo). O Roon deteta sozinho o Core na rede e está pronto a funcionar.

Além disso, o Roon ainda suporta Chromecast e AirPlay, reconhecendo qualquer aparelho deste tipo que esteja presente na rede informática doméstica.

Tudo pode ser controlado, por exemplo, pelo telemóvel ou tablet, pela app disponível nas lojas Goggle Play ou App Store.

Há ainda mais funcionalidades incluídas, como o tratamento de áudio digital (digital sound processing), incluindo correção de frequências -- permitindo por exemplo "equalizar" digitalmente o som, com vista a corrigir defeitos acústicos que a sala tenha, para quem se queira aventurar neste tipo de coisas. Pode ainda fazer "upsampling" do som -- tentar transformar o áudio de resolução baixa em resolução mais alta através de algoritmos matemáticos. E não só...

Tudo isto só tem, objetivamente, um defeito: não é barato. A Roonlabs atualmente oferece três opções de licenciamento: 12,99 dólares (10.72 euros) por mês; 119,88 dólares (98,92 euros) por ano; ou um pagamento único de 699,99 dólares (577,58 euros) para uma licença vitalícia.

Mas se pensarmos que, no mercado do áudio perfecionista, um cabo de eletricidade para um componente pode chegar aos 2 mil euros por metro... Por tudo aquilo que faz, pela música que permite descobrir -- em especial pelas ligações entre músicas e artistas que desvenda -- esta é uma peça quase tão importante num sistema de som quanto os altifalantes que reproduzem a gravação. Afinal, um prazer quase tão grande quanto ouvir boa música é descobrir música nova boa.

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