O maior clássico do Brasil foi decidido por um argentino
Na rivalidade figadal entre brasileiros e argentinos no futebol, que alimenta uma colecção histórica de piadas jocosas trocadas de parte a parte, o país das Pampas acaba de ganhar um trunfo carregado de simbolismo: o maior clássico do futebol brasileiro, o "Fla-Flu" em pleno Maracanã, foi resolvido por um jogador argentino. E não um jogador qualquer: Maximiliano Bianccuchi, primo de Lionel Messi, o craque que transporta nos pés os mais puros genes do futebol argentino.
Bianccuchi, avançado de 22 anos, chegou ao Flamengo no início deste mês de Agosto. No currículo, além de ser primo de Messi, o título de melhor marcador do campeonato paraguaio pelo Sportivo Luqueño, com 22 golos. O seu primeiro treino na Gávea - centro de treinos do Fla - teve direito a descrição pormenorizada nos jornais: Bianccuchi passou no teste com uma assistência para golo de Ibson (ex-FC Porto) na peladinha.
Agora, frente ao Fluminense, no "clássico das multidões" (como o baptizou o jornalista Mário Filho), o primo de Messi progrediu mais uma etapa: marcou o golo da vitória do mais popular clube do Brasil, mergulhado no fundo da tabela, sobre o maior dos rivais. Foi aos 41 minutos, num contra-ataque do Flamengo, após um passe do médio Juan: Bianccuchi recebeu na área e desviou com classe do guarda-redes do "Flu", Ricardo Berna, um guardião que esta semana também foi notícia por assumir o seu desejo de representar a selecção de Portugal - a avó era portuguesa.
E o argentino soube capitalizar o feito junto dos adeptos. "Graças a Deus pude fazer o golo para essa torcida maravilhosa. Senti uma emoção bárbara. A torcida do Flamengo é muito especial, dá-nos uma força muito grande e seguramente todos os adversários vão sentir isso", dedicou Bianccuchi, por estes dias o novo ídolo de um Flamengo longe dos tempos que lhe construíram o mito, nas décadas de 70 e 80, com Zico como o porta-estandarte da arte do futebol brasileiro.
Mas o clássico, que bateu o recorde assistência do actual campeonato brasileiro com mais de 49 mil espectadores nas bancadas, teve muitas outras "estórias" para além do golo argentino de Bianccuchi. Teve, por exemplo, dois jogadores do Flamengo expulsos, um deles o ex-benfiquista Roger, que envergava pela primeira vez a camisola rubro-negra num "Fla-Flu", ele que se fez jogador com a camisola tricolor do Fluminense.
O "Fla" aguentou a vitória mesmo com dois jogadores a menos e o seu treinador, o histórico Joel Santana, levou também a melhor no seu duelo particular com Renato Gaúcho, o desbocado ex-avançado que passara os dias anteriores ao clássico a provocar o rival.
Com a vitória no "Fla-Flu", o Flamengo respira agora um pouco melhor no Brasileirão, mas ainda assim mergulhada na zona de risco - é 18.º e antepenúltimo, a quatro pontos dos lugares de manutenção, mantendo por isso o risco de uma descida histórica à Série B. O que, apesar da derrota, deu alguma margem jocosa aos adeptos do Fluminense, que segue bem acima do rival na tabela: o Flamengo pode descer e o seu maior craque é um argentino.
Maxi Bianccuchi, esse, já não é só o primo de Messi. |