Miguel Coutinho: "O MAAT é uma âncora de Lisboa"
Quando Miguel Coutinho abre a porta do gabinete que dá para a sala de reuniões, onde decorrerá esta entrevista, deixa à vista uma fotografia da autoria de Edgar Martins. O artista português fotografou centrais elétricas e centros de comando como aquele que o administrador executivo da Fundação EDP e diretor-geral guarda nesta sala. Há outras, como a Amália Rodrigues, captada por Eduardo Gageiro, que o "observa" durante a conversa. Passa um ano desde que o MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia abriu.
O que ficou por fazer neste ano?
Ficou muito por fazer e o trabalho de uma fundação ou de um museu nunca está acabado. Temos a programação toda preparada para 2018, um dos momentos relevantes vai ser o lançamento de uma revista de pensamento e crítica cultural, internacional, bilingue. É um projeto que está a ser dirigido pelo José Manuel dos Santos, meu colega da administração. De resto, temos uma programação que considero interessante, além de ambiciosa. Vamos expor pela primeira vez, na primavera, a coleção de Pedro Cabrita Reis, que foi uma compra importante que a fundação fez. E vamos ter também algumas exposições a que vale a pena fazer referência. Uma delas é o Happy Show, de Stefan Sagmeister, e vamos ter também na Galeria Oval a instalação que Xavier Veilhan fez no pavilhão francês da Bienal de Veneza. Queremos dar continuidade ao trabalho que fizemos, manter a ambição de ter um museu que faça a divulgação da arte contemporânea portuguesa e também trazer a Lisboa e a Portugal algumas exposições internacionais e muitos artistas internacionais.
Conseguiram que o MAAT se afirmasse como museu para lá do impacto como peça arquitetónica?
Hoje, é claro que o MAAT e este campus da fundação - um jardim de 20 mil metros quadrados, a Central Tejo, que é um edifício extraordinário e muito importante de arquitetura industrial - são uma uma âncora da cidade de Lisboa.
Quantas pessoas visitaram o MAAT?
Entre a inauguração e os dados que temos hoje, podemos dizer que 550 mil pessoas visitaram o MAAT. Tentamos ser o mais transparentes possível na contabilização dos visitantes. Entre outubro de 2016 e março de 2017, a entrada no MAAT era gratuita. Os bilhetes pagos começaram em julho de 2016 para a Central e em março deste ano para o MAAT. Se compararmos entre janeiro e agosto de 2016 e janeiro e agosto de 2017, nós duplicámos o número de visitantes. Neste ano, já com entradas pagas, temos 268 mil visitantes. Este número, que acho que vai superar os 300 mil, é francamente bom. Além das centenas de milhares de pessoas que vêm aqui tirar selfies no topo do edifício, almoçar na escadaria do MAAT ou passear no jardim da Fundação. É um espaço aberto à cidade e à sociedade. Costumo dizer que nós também tivemos a nossa perestroika na Fundação EDP. Deitámos abaixo uma série de muros e reforçámos muito a relação deste espaço de 28 mil metros quadrados, que tem cultura, que tem lazer, com a cidade e com o rio.
E continuam a fazer obras no jardim.
A cafetaria que estava junto à saída da ponte que vem do Museu dos Coches passa para dentro deste espaço da Fundação EDP, mas não será gerida por nós. Nós teremos o nosso próprio restaurante em maio do próximo ano. Lançámos um concurso que foi ganho por Rui Sanches, um empresário muito conhecido da área da restauração.
Outra ambição de há um ano era que o museu tivesse receitas que o tornassem sustentável. É possível?
A Fundação EDP é financiada pela empresa, a EDP, e depois por uma dotação dos acionistas, que prescindem de uma parte dos seus lucros para financiarem a atividade da Fundação EDP. É um número que tem sido estável nos últimos anos, não temos perspetiva de vir a aumentar. São 13,7 milhões de euros.
O museu tem um orçamento de dois milhões, como é distribuído o restante?
Temos um orçamento de cerca de 2,6 milhões de euros para a inovação social. Na área da saúde temos disponíveis 1,2 milhões de euros para equipamentos; temos 750 mil euros para a área da inclusão social - crianças com deficiência, idosos, mulheres vítimas de violência; temos um projeto de arte pública cujo objetivo é dar acesso à cultura a áreas com densidade populacional baixa. Outro projeto é o das escolas solidárias, que mobilizou 30 mil professores e alunos, promovendo o espírito de cidadania.
Uma das atividades mais visíveis é o mecenato cultural. Incluem nele os prémios a artistas.
É uma parte do mecenato cultural, mas vai além disso. Vai no sentido de apoiar instituições que precisam dos privados. A Galeria Municipal do Porto, a Casa da Música, a Fundação de Serralves, a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, a Orquestra Sinfónica Juvenil e a Companhia Nacional de Bailado, de que somos mecenas exclusivos. Às vezes perguntam porque apoiamos instituições com o mesmo objetivo que o MAAT. Vemos estes apoios numa lógica complementar e não competitiva.
Qual é o vosso plano de aquisições?
A nossa grande aquisição foi a coleção de Pedro Cabrita Reis, uma decisão muito ponderada e refletida dentro da Fundação EDP. Acreditamos que é uma coleção extraordinária, muito representativa dos últimos 50 anos da arte em Portugal. Veio complementar a coleção que já tínhamos e reforçar alguns núcleos, preencher algumas lacunas. Foi um investimento importante. A Fundação destina uma parte do orçamento para aquisições e com a aquisição que fizemos do Pedro Cabrita Reis, esse valor diminuiu nos últimos dois anos, mas continuamos a comprar e a nossa prioridade é continuar a criar uma coleção importante e, sobretudo, a estar atentos a novos artistas, a acompanhar as tendências. O orçamento neste ano foram 200 mil euros, em 2016 foram 300 mil.
Como é percecionada lá fora a Fundação EDP?
Ficámos muito surpreendidos pela quantidade de jornalistas internacionais que vieram à inauguração, temos mais de 400 referências internacionais sobre o MAAT. Trouxe visibilidade à Fundação EDP, à arquitetura da Amanda Levete, mas também à cidade de Lisboa. O sucesso do MAAT é o sucesso de Lisboa. O MAAT é hoje um edifício icónico da cidade e um museu importante. A foto da apresentação do iPhone foi tirada do topo do edifício.
Voltemos ao início. O que é mais importante: o edifício ou o conteúdo?
Não quero ser politicamente correto, mas diria que é tudo. É um espaço que convida a entrar, não tem nenhuma barreira. A arquitetura é muito importante, mas fizemos 23 exposições desde a abertura, com mais de 400 artistas, 300 deles estrangeiros.