O lugar de Herman

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Herman José, cujo programa de sábado à noite a RTP decidiu descontinuar, acredita que não existe mercado para talkshows de humor como o seu. Se calhar, tem razão. Mas, em todo o caso, é preciso não confundir as idiossincrasias do público, eventualmente justificadoras das más audiências, com aquilo que Herman vinha sendo forçado a fazer em Herman 2013, e que era um caso flagrante de falta de graça e de interesse.Também por culpa própria, não questiono. Mas não só. Quem assistia ao programa sabe o quão ao deus-dará "o verdadeiro artista" era deixado naquele set, condição desde logo denunciada pela confrangedora pobreza dos textos dos monólogos de abertura. Daí, suponho, as aparentemente (mas só aparentemente) bem-intencionadas referências de Herman ao 5 para a Meia-Noite, igualmente com números modestos apesar da máquina de produção superior de que dispõe. É evidente: Herman José sente-se abandonado. Ou muito me engano, ou tem razões para isso.E mesmo que não tivesse: o seu lugar é na RTP. Noutros moldes, talvez noutro canal que não a RTP1, provavelmente com menos exposição, seguramente num formato que o proteja melhor dos efeitos do seu cansaço - mas na estação pública.O seu contributo para a história do humor português, apesar dos últimos anos, foi demasiado grande para nos podermos dar ao luxo de o deixar cair ao estilo Mr. Saturday Night. Temos para com ele uma dívida de gratidão e é importante, agora, exercermos a consciência.Nenhum humorista dura mais do que um jogador de futebol. Muito, apesar de tudo, durou Herman. E é tempo de usar o seu exemplo de um modo inspirador, e não em concorrência com a geração YouTube.

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