O lagarto mágico do Algarve

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Não se sabe ao certo o número de camaleões que existem no Algarve, a única região onde a espécie pode ser encontrada em Portugal. Cálculos do biólogo Octávio Paulo e da sua equipa, da Faculdade de Ciências de Lisboa, apontam para efectivos entre os 200 mil e os 350 mil. "Mas estas são estimativas muito optimistas, pensamos que não correspondem à realidade", garante o investigador, que fez os primeiros estudos sobre os camaleões algarvios em 1989. Antes disso nada se sabia sobre aquela população selvagem.

Optimismo, aqui, não é atitude intencional. Tem a ver com a impossibilidade da equipa se lançar num estudo sistemático no terreno, porque não tem o financiamento necessário. "Nas zonas onde não encontrámos camaleões, temos que colocar a hipótese de eles existirem e nós não os termos detectado", diz o biólogo.

O único financiamento disponibilizado até hoje para o estudo da espécie foi um montante de cinco mil contos atribuído ao grupo pelo Parque Natural da Ria Formosa, nos anos 90.

Os estudos da equipa - o mais recente, no ano passado, por Nuno Marques, para a sua tese de mestrado - mostram uma situação que levanta preocupações, apesar de o camaleão estar classificado, desde 2005, no Livro Vermelho das espécies como não ameaçado em Portugal.

Sabe-se, por exemplo, que os camaleões algarvios vivem hoje em quatro núcleos (entre Vila Real de Sto. António e Cabanas, entre Faro e Quarteira, em Armação de Pêra e no Alvor), com vazios pelo meio que não permitem o cruzamento entre os indivíduos de cada um desses grupos populacionais. "Isso é negativo porque impede as trocas genéticas entre os vários grupos e determina o empobrecimento de cada um deles", explica por seu turno Nuno Marques. Outra nota de preocupação tem a ver com o habitat, que "foi retalhado e fragmentado pela construção e ocupação humana nas últimas duas décadas", diz Octávio Paulo. Quanto a medidas de conservação, o biólogo defende a preservação das dunas, essenciais à reprodução destas populações. E mais estudos para afinar estratégias.

Uma das incertezas que pende sobre esta população - que tem levado a que, erradamente, para Octávio Paulo, não seja considerada autóctone - é a da data da sua introdução no Algarve. Em 1945 um professor de Coimbra, com base num relato oral, escreveu que isso remontaria a 1920. O biólogo contesta. "A história secular de trocas entre Portugal e o Norte de África, deverão ter trazido a espécie para cá muito antes disso, talvez logo no século VII, até porque no Norte de África este é considerado um animal mágico, que traz boa sorte." |

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