O Jantar de Natal e as Complexidades das Relações com a Comida
Uma reflexão sobre as Perturbações do Comportamento Alimentar.
Existem milhares de pessoas, que nesta época, vivem numa dualidade entre a celebração da festa de Natal com a família e os seus desafios com a alimentação. Os medos do julgamento familiar, da pressão social e suas expectativas, intensificam o sofrimento psicológico de muitas pessoas que "lutam diariamente" com a sua difícil relação com a comida -- muitas vezes de forma envergonhada.
As perturbações do comportamento alimentar mais comuns são a Ingestão alimentar compulsiva, a Anorexia nervosa e a Bulimia nervosa e provocam alterações: na forma como as pessoas avaliam o seu peso e a sua imagem corporal, no comportamento (padrão de ingestão alimentar), nos pensamentos e nas emoções. Tendo grande impacto na avaliação do seu autoconceito (autoestima, autoconsciência).
As pessoas com perturbações do comportamento alimentar, vivenciam grande insatisfação com o seu peso, considerando-o excessivo, mesmo em casos, em que o peso está bastante abaixo do recomendado para a idade e altura. Sentem-se frequentemente muito ansiosas, tristes e estão muito focadas em aspetos que se relacionam com a alimentação, adotando muitas vezes, comportamentos muito rígidos e pouco saudáveis (isolamento, restrição alimentar, prática de exercício físico excessiva, indução do vómito e abuso de laxantes ou diuréticos), com um único objetivo -- Perder peso.
O emagrecimento, transforma-se na sua grande prioridade -- outros aspetos anteriormente valorizados, deixam de o ser.
Por vezes, as pessoas (cada vez mais jovens) que têm este tipo de perturbações, não reconhecem a sua doença ou a sua gravidade. Não pedem ajuda. E em casos graves, por exemplo de Anorexia Nervosa podem associar-se outras complicações de saúde física e mental e risco de morte. O tratamento mais adequado, requer o envolvimento de uma equipa multidisciplinar (diferentes áreas da Medicina, Nutrição e Psicologia).
É importante sensibilizar e aumentar a compreensão por parte das famílias sobre este tema, por um lado porque o envolvimento da família e da rede de apoio é muito importante no tratamento das perturbações do comportamento alimentar e por outro lado, durante as celebrações é necessário criar ambientes mais "ágeis e de diálogo aberto", onde as pessoas com perturbações do comportamento alimentar se sintam mais apoiadas, acolhidas e consigam expressar as suas necessidades e/ou dificuldades. Pensar-se em alternativas, focar o Natal em experiências positivas e significativas "além da comida", esta celebração poder ser uma ótima oportunidade para refletir sobre a experiência e os desafios que cada um enfrenta.
E se o Natal é Amor, Família, União, então em nossas casas, nas nossas comunidades, que tenhamos um Natal mais Empático e Inclusivo.
Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde