O império dos cafés que bate o pé aos gigantes mundiais
Quando aos 13 anos começou a trabalhar na torrefacção de cafés, Rui Nabeiro estaria longe de imaginar o império que iria construir ao longo da vida. Hoje, a Delta dá emprego a cerca de três mil pessoas, factura 280 milhões de euros por ano, é líder de mercado em Portugal e está presente em diversos países onde compra ou para onde exporta café.
Rui Nabeiro, que este ano festejou o 80.º aniversário, começou a trabalhar na Torrefacção Camelo, empresa familiar cuja direcção assumiu aos 19 anos, depois do falecimento do pai. Em 1961, 11 anos depois, criou a sua própria empresa - a Manuel Rui Azinhais Nabeiro, Lda. -, começando por explorar um armazém e uma pequena torrefacção de cafés. Foi por essa altura que lançou no mercado a marca que o haveria de projectar na vida empresarial. Nascia a Delta.
"Foi assim que tudo começou", diz Rui Miguel Nabeiro, 32 anos, neto do "patriarca" e administrador da empresa. "O negócio do café faz parte da vida do meu avô desde sempre."
Novo momento importante ocorreu no pós-25 de Abril quando as independências das antigas colónias fez que Portugal passasse de produtor a importador de café, produto que começou a tornar-se cada vez mais raro no mercado. "Nessa altura o meu avô fretou um barco e partiu rumo a Angola comprando café suficiente para trazer para Portugal, colmatando assim a falta que havia. Esta situação foi determinante para a nossa empresa."
Na década de 80 dá-se a separação da actividade comercial da industrial. "Um ponto de viragem" que culminou com a reorganização da Delta em 1998, através da qual foram criadas 22 unidades de negócio, organizadas por áreas estratégicas com o objectivo de reforçar a actividade central do grupo, a comercialização de café.
Pelo meio, o "patriarca" exerceu diversos cargos públicos, foi presidente da Câmara de Campo Maior, investiu na área social, tornou-se comendador, doutor honoris causa pela Universidade de Évora e preservou a empresa da investida de "gigantes" do sector alimentar como a Nestlé.
"Esse é um episódio passado há vários anos. A Delta Cafés não está à venda e não está em 'guerra' com as multinacionais. E a verdade é que, se avaliarmos o mercado em que nos inserimos, há lugar para vários players", diz Rui Miguel Nabeiro, licenciado em Gestão e cuja vida deu muitas voltas antes de chegar à empresa fundada pelo avô.
"Ingressei na Delta em 2003 após algumas experiências profissionais no estrangeiro, nomeadamente em Itália e Suíça, mas todo o meu percurso decorreu naturalmente, sem influências familiares." "Gosto do que faço e tenho orgulho em ser membro activo de uma empresa familiar, com 50 anos de trabalho e história, na qual a intergeracionalidade é uma mais-valia e uma aprendizagem constante", garante o administrador, cujos oito anos de "casa" têm estado particularmente focados na Delta Q, a marca do grupo direccionada para o segmento do consumo de café expresso em cápsulas.
"A Delta Q foi lançada em 2007 quando sentimos que o ciclo de inovação estava concluído", explica Rui Miguel Nabeiro, considerando que a marca foi lançada "na altura certa" e com a vantagem de utilizar a rede de distribuição do grupo. "O objectivo é consolidar a nossa posição no mercado português com uma constante aposta em inovação, como são exemplo os recentes lançamentos power coffee e tisanas e prosseguir a nossa estratégia de internacionalização."
Actualmente a Delta compra café praticamente a todos os países produtores, entre os quais Brasil, Angola, Vietname e Costa Rica. As exportações representam 20% da facturação total, com Espanha à cabeça de uma lista em que se integram outros países como França, Luxemburgo, Brasil e Angola.