O impeachment foi aceite!
O impeachment foi aceite!
E, segundo as primeiras sondagens aos parlamentares, deve prosperar!
O Brasil vai, finalmente, livrar-se de um governante de extrema-direita, populista doentio e obcecado por armas!
Um falso moralista que, do nada, acabou eleito na esteira da "luta contra a corrupção" e do "combate à velha política" mas que acabou apanhado numa teia que envolve a família!
Calma: as quatro frases acima não são exercício de futurologia. São a mais pura realidade.
O único senão é que o político em causa não é Jair Bolsonaro mas Wilson Witzel, o governador do Rio de Janeiro.
Witzel é a versão carioca do presidente da República.
Com discurso de justiceiro, o juiz de profissão começou no fundo da tabela das sondagens nas eleições de 2018 - tinha 1% - mas foi driblando os rivais até chegar ao dia da primeira volta à frente - com 41%. Na segunda, bateu Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio e rosto da velha política.
Na caminhada vitoriosa serviu-se do apoio de Flávio Bolsonaro no estado e de Jair Bolsonaro no país.
Começou a todo o gás, anunciando que, com ele, a polícia passaria a "mirar na cabecinha" dos bandidos e a promover "o abate" de quem transportasse armas nas favelas.
Numa manhã, pulou, febril, para um helicóptero da polícia especial e gravou-se a participar "numa ação para acabar com a bandidagem em Angra dos Reis", região turística perto do Rio. Na ação foi disparada uma rajada de tiros contra uma barraca azul, onde supostamente se traficava droga. Afinal, a barraca era um lugar de culto de evangélicos. Por sorte não estava lá ninguém a rezar.
Noutra manhã, depois de um sequestrador de um autocarro ter sido abatido por um sniper, chegou ao local da operação, em êxtase, a festejar a morte do criminoso com pulos e socos na atmosfera, cena mais uma vez devidamente gravada para promoção pessoal.
O Rio é um dos lugares do planeta onde a polícia mata mais inocentes, quase sempre pobres e pretos, diga-se entre parêntesis.
Witzel, entretanto, tem o costume de partilhar em grupos de Whatsapp uma montagem de uma foto sua com a faixa presidencial.
A ambição do governador, por um lado, e a insegurança patológica do atual dono da faixa, por outro, desgastaram a relação de Witzel com Bolsonaro.
O presidente da República atribuiu ao governador do Rio uma fuga de informação no caso Marielle Franco: a de que um dos assassinos entrou no condomínio onde morava tanto o outro assassino como Bolsonaro por ordem deste.
Já declaradamente inimigos, Bolsonaro e Witzel ficaram em lados opostos da barricada da pandemia: o primeiro chamou-lhe gripezinha, o segundo recomendou isolamento.
E foi nesse cenário de zanga de comadres que Carla Zambelli, uma deputada mais bolsonarista do que Bolsonaro, anunciou em entrevista à Rádio Gaúcha, numa segunda-feira, que a polícia iria deflagrar operações contra governadores. Na terça-feira, lá estavam os agentes a bater à porta de Witzel.
Segundo as autoridades, o governador está no topo de uma organização criminosa que fraudou o orçamento de hospitais de campanha no Rio.
Para tanto, seria auxiliado por sua mulher, Helena Witzel, que recebeu desde janeiro de 2019 mais de 350 mil reais em verbas públicas do Partido Social Cristão, o do governador, por apoio jurídico.
Witzel, como Bolsonaro, prega o slogan salazarento "Deus, pátria e família" - as famílias deles, entenda-se.
Na sequência, com o esmagador resultado de 69 votos a favor, zero contra e uma abstenção, a Assembleia Legislativa do Rio abriu processo de impeachment.
Como bons adeptos de sangue e balas perdidas, Bolsonaro e Witzel vêm, entretanto, mantendo um animado tiroteio.
"Não vou falar com ele porque em breve já sabemos onde ele deve estar, né?", divertiu-se o presidente, deixando subentendido que o rival está a caminho da prisão.
"Quem devia estar preso é Flávio Bolsonaro", reagiu o governador, aludindo às acusações de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro que pesam sobre o primogénito presidencial.
Nesta quinta-feira já foi detido o pivô desses esquemas de Flávio, o ex-assessor Fabrício Queiroz, amigo de 30 anos de Jair Bolsonaro - um caso tratado por juristas e pela imprensa como "bomba atómica na direção do Planalto"
Agora já podem chamar-lhe exercício de futurologia mas parece que pode vir aí outro impeachment.
em São Paulo