O III Reich em Aljezur
Nos últimos dias de dezembro de 2015, José Marreiros entrou no sótão dos antigos Paços do Concelho de Aljezur - onde hoje funciona o Museu Municipal - e deu de caras com um amontoado de objetos antigos, registos documentais, livros do tempo da monarquia. «Caramba», proclamou nervoso o presidente da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur (ADPHAA). «Acho que encontrei um tesouro.» Havia registos de população, forais outorgados à pena, balanças das medidas de alqueires, cartas de toda a espécie. Nos meses seguintes, o homem preocupou-se em retirar dali os achados, levá-los para o arquivo municipal, na mesma rua, e catalogá-los devidamente. Há um par de meses, quando arrumava o último canto de papelada, duplicou a surpresa: ali estava toda a correspondência expedida e recebida pelo município ao longo dos séculos. Cada maço de papéis estava embalado com a indicação do ano de emissão. Marreiros nem hesitou: foi direito a 1943. Ali, no meio das teias de aranha e da parca iluminação, jaziam as explicações e os relatórios confidenciais para os eventos de 9 de julho. Setenta e três anos depois, era finalmente possível reconstituir ao pormenor o dia em que a Segunda Guerra Mundial chegou à Costa Vicentina.