O ícone da natação que agora ajuda a formar novos campeões

Filho de um antigo futebolista do Sporting, Tiago Venâncio bateu 95 recordes nacionais de natação ao longo da carreira que terminou cedo. Atualmente é treinador em Azeitão
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Tiago Venâncio é um dos grandes nomes da história da natação portuguesa, tendo conquistado um total de 95 recordes nacionais. Foi ainda 42 vezes campeão nacional português, 12 espanhol e nove nos Emirados Árabes Unidos.

Apesar de já estar retirado da alta competição, continua ligado à modalidade, ele que é oriundo de uma família de desportistas: o pai é Pedro Venâncio, antigo central do Sporting e internacional português, e a mãe, Ana Ferrão, foi campeã nacional de estafeta pelo Sporting. Já o irmão Frederico seguiu as pisadas do pai, é defesa central e representa os ingleses do Sheffield Wednesday.

Apesar de só ter 30 anos, Tiago abandonou a alta competição em 2013, depois de ter sido operado ao ombro direito. Depois tirou o curso de Ciências do Desporto, estando atualmente no primeiro ano do mestrado. Em setembro do ano passado foi convidado pela Câmara Municipal de Setúbal, a sua terra natal, para ser o treinador principal da equipa desportiva da Piscina Municipal de Azeitão, o Onda Azeitão, experiência que assegura estar a correr às mil maravilhas.

"A câmara queria dar uma volta à equipa, que não tinha uma base definida. Começámos com alguns atletas, entretanto vários saíram, outros voltaram e agora temos um grupo estável, recebendo também atletas de clubes da região. O Onda Azeitão tem essencialmente nadadores infantis e juvenis, mas também alguns juniores e seniores", referiu, destacando os resultados já alcançados: "Ainda no passado fim de semana tivemos três miúdos que conseguiram os mínimos para os Campeonatos Nacionais e Absolutos, que se juntaram a outro atleta que já o tinha alcançado. Antes da minha chegada, o clube só tinha tido um campeão regional, comigo já foram seis campeões regionais e um campeão zonal."

Tiago Venâncio assume o gosto por treinar jovens mais novos. "Já nos clubes por onde passei tentava sempre treinar as camadas jovens. Não me vejo a continuar com este trabalho quando tiver 50 ou 60 anos, mas, enquanto tiver vontade, cá estarei, mesmo com uma carga horária muito grande e passando fins de semana fora", referiu.

E o que é preciso para se ser um bom treinador de natação? "Sempre senti que em Portugal havia um grande atraso ao nível do treino, principalmente em relação aos países do norte da Europa. Tento estar sempre atualizado com os novos métodos e as redes sociais são uma preciosa ajuda para trocar experiências com treinadores de outros países", explicou.

Sobre o estado atual da natação portuguesa, defende que pode não haver muitos talentos, mas os que existem são de exceção. "Houve a geração do Nuno Laurentino e do José Couto e depois surgiu a minha. Quando eu saí, começou a aparecer o Alexis Santos e mais recentemente o Diogo Carvalho. Na minha opinião, antigamente tínhamos mais talentos, mas os grandes nadadores da atualidade estão mais bem preparados para alcançar grandes resultados internacionais", defendeu.

Recorde da Europa aos 16 anos

Foi em 2004 que Tiago se começou a destacar nos Campeonatos da Europa de Juniores que decorreram em Lisboa, ao bater o recorde nacional de juniores nos 100 metros livres, marca que foi também recorde da Europa. "Parece que já ninguém se lembra e que bater recordes europeus é algo habitual em Portugal", lamentou.

O antigo recordista nacional assume que muitas vezes tem saudades dos tempos de atleta. "Por vezes lembro-me de que tenho 30 anos e que há muitos atletas no estrangeiro com a minha idade com bons resultados. No final dos treinos atiro-me para a piscina e consigo perceber que ainda teria algumas possibilidades de competir a sério", assumiu. Por isso aceitou o desafio e em julho irá participar no Campeonato Nacional de Masters, "mas só na desportiva, ver o que dá e tentar desfrutar, pois com tantos anos de alta competição acaba-se por perder um pouco aquele lado do prazer da natação".

Tiago esteve presente em três Jogos Olímpicos - Atenas 2004, quando aos 16 anos se tornou no nadador português mais jovem a participar nas Olimpíadas, Pequim 2008 e Londres 2012. "Os que me correram melhor foram os primeiros, porque fui sem pressão, apesar de ter a noção de que estava no maior evento desportivo mundial. Nos outros já ia com todo o peso da natação portuguesa às costas e as coisas não correram bem", reconheceu. Desses primeiros Jogos Olímpicos recorda o momento em que se cruzou com o ídolo. "Mal entrei na aldeia olímpica dei de caras com a seleção australiana e com o Ian Thorpe. Fui a correr para ele com a máquina fotográfica e só me lembro dele olhar com uma cara espantada, a pensar "quem é este gajo"", contou.

Tiago não esconde que o pai foi uma importante inspiração: "Habituei-me a ver aquele sofrimento todo do meu pai e o esforço que fazia para ultrapassar as dores nos joelhos devido às lesões. Por isso, pensava que se ele conseguia superar, eu não podia dar parte de fraco." E apesar de oriundo de uma família de atletas, diz que raramente o desporto é assunto de conversa em casa. "Sabemos a pressão que implica a alta competição e por isso pouco falamos sobre essas matérias. De vez em quando vejo jogos do meu irmão em Inglaterra, mas não é uma obsessão, até porque tenho pouco tempo livre", refere.

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