O icebergue do narcotráfico

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Enquanto a Europa está preocupada a fazer guerra ao tabaco - com Portugal a colocar-se na linha da frente dos bons alunos, à força de leis absurdas como as intenções conhecidas nas últimas semanas, que passam pela proibição de fumar em locais como praias e de tornar a compra de cigarros numa missão quase impossível -, o tráfico e consumo de drogas parece espalhar-se pelo Velho Continente como fogo em mato seco. E com Portugal a servir de facilitador, apesar dos melhores esforços e vitórias das nossas depauperadas polícias.

Em dois meses, foram apanhados dois submarinos em águas espanholas que cruzaram o Atlântico carregados de cocaína e foram descobertos laboratórios de fabrico de droga paga pelos importadores a cerca de 30 mil euros o pacote, segundo os investigadores. Em Portugal, onde as overdoses aumentaram 45% num ano, 1 grama de cocaína vende-se por menos de 40 euros.

De acordo com a ONU, de 2020 para 2021 a produção aumentou em mais de 30% e na última década a quantidade de cocaína sul-americana a chegar a países europeus quadruplicou. Um movimento que tem consequências na escalada de violência e criminalidade na Europa, tendo mesmo levado países como Holanda e Bélgica a lançar alertas não apenas pelo grave problema de narcotráfico mas também pelo crescimento dos crimes a ele associados, incluindo raptos e homicídios. A proteção a membros dos governos e das famílias reais desses países teve de ser reforçada após ameaças de morte, mas não se vê impulso de uma ação concertada com vigor suficiente para travar já um risco sério, que ameaça a segurança e o próprio modo de vida europeu.

Em Portugal, enquanto o governo se distrai a proibir os fumadores de o serem, o narcotráfico vai vingando, com o consumo de cocaína, MDMA, cetamina e canábis a disparar de tal forma que o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência põe agora o país no topo da negra tabela, juntamente com Espanha, Bélgica e Holanda. Pelo nosso posicionamento geográfico, também aqui se fixaram importantes portas de entrada para as drogas que se espalham pela Europa.

Se as apreensões da PJ em 2022 constituíram um recorde dos últimos 15 anos, as 8 toneladas de cocaína apreendida só até maio - metade desse recorde em apenas cinco meses - deviam fazer soar bem alto todos os alarmes e empurrar-nos para a necessária mobilização de forças e esforços concertados. Esta é apenas a ponta de um icebergue cuja verdadeira dimensão ainda nos escapa.

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