O homem que matou Portugal tem nova exposição
Há quem tenha títulos nobiliárquicos a anteceder o seu nome. ±MAISMENOS±, alter ego de Miguel Januário, tem a lista de atos polémicos que cometeu no cabeçalho de quase qualquer página de jornal ou revista que sobre ele escreva. Enterrou Portugal em Guimarães no ano de 2012 - quando a cidade foi Capital Europeia da Cultura -, com honras feitas pela GNR (obviamente, falsa) e a cacofonia de carpideiras; apunhalou pelas costas Dom Afonso Henriques; vestiu a Fernando Pessoa um colete florescente onde se lia "Jornalista"; e, entre outros tantos atos, jogou golfe com pão no átrio da Assembleia da República.
Tradição cumprida, embora antes dos títulos se tenha lançado o seu nome, há que dizer que o artista inaugura hoje uma exposição na Underdogs, galeria de Vhils (Alexandre Farto) e Pauline Foessel, em Lisboa. Quanto ao título, O Princípio do Fim, podia ser mais uma das frases que escreve na rua há uma década, altura em que ±MAISMENOS± nasceu no último ano de Miguel na Faculdade de Belas Artes do Porto, curso de design. O Povo Vencido Jamais Será Unido, Estalo Novo, Orgulhosamente S.O.S., Adeus Pátria Família, Abril Mágoas Mil, Gente Fina Não Come Aqui, Compro Mas Não Existo ou Angola de Todos os Santos, que figura há um ano em Luanda. Estão por aí, nas ruas. No começo e fim de cada uma está o símbolo ±, mais, menos. Em nome do sistema especulativo que ele há dez anos critica.
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O espetador atrás do arame
Entramos na Underdogs, armazém 56 da rua Fernando Palha. Miguel expos ali Sell Out em 2013. Até "Nothing" ("nada") estava à venda e o espetador tornava-se mercadoria à entrada. A crise havia já explodido e as suas críticas ao capitalismo, ao sistema bancário (Em nome do Amorim, do Sonae e do Espírito Santo. Amén também está por aí) e ao consumismo não eram já de "profeta da desgraça".
Agora, no princípio de O Princípio do Fim, "as pessoas vão ser obrigadas a algum esforço físico para entrarem, nada de mais, é uma espécie de vénia", nota Miguel. Entra-se pelo arame que perfaz um muro entre nós e as obras. Cerca e define toda a exposição. A primeira obra que encontramos reflete-nos. Chama-se Alien. É um espelho. "As pessoas vão ter um reflexo de si, em termos de pensamento e de se verem dentro de uma jaula ou através de uma rede."