O homem mais rápido do mundo

As suas paixões iniciais eram o críquete e o futebol, que jogava em criança nas ruas, mas a sua velocidade fora do comum não passou muito tempo despercebida.
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Aos 12 anos era já o rapaz mais rápido de toda a escola nos 100 metros. Daí até à História, em Pequim2008, a vida de Bolt acelerou quase à velocidade com que percorreu a pista de tartan do Estádio olímpico. Aos 15 anos, nos Mundiais de Juniores na Jamaica, tornou-se o mais jovem campeão junior de sempre nos 200 metros. E desde logo um ídolo no país. Em Maio de 2008, poucos meses antes de Pequim, fez a primeira experiência "a sério" numa prova de 100 metros: 9.76 segundos, a segunda melhor marca de sempre até então. Depois, em Pequim, foi o que o mundo recordará para a eternidade: Usain Bolt virou História viva.

Actualmente, o "lightning Bolt" (o relâmpago) ganha 200 mil euros por corrida e tem vários contratos multimilionários com sponsors como a Puma.

A nível desportivo, o críquete é o desporto nacional na Jamaica. Ainda assim, o atletismo foi a sua primeira escolha de infância?

Não. Como qualquer outra criança jamaicana, comecei a jogar críquete na escola. Porém, também desde bem cedo, o meu treinador de críquete que era bastante rápido para a minha idade e recomendou-me a fazer alguns testes de sprint no atletismo.

Curiosamente, sendo a Jamaica um país de muito sol, há umas décadas surgiu no seu país uma equipa de Bobsled (desporto de Inverno), que levou mesmo à realização de um filme sobre esse assunto. Nunca lhe despertou curiosidade?

Lembro-me bem dessa altura. Nos primeiros JO de Inverno em que participaram, a Jamaica quase parou, eu fui um deles. Mas foi apenas curiosidade, o atletismo era a minha paixão e continua a ser.

Ainda se lembra da primeira vitória na modalidade?

Sei que comecei os primeiros torneios na escola. Não lembro da minha primeira vitória, mas sei que fui bem sucedido desde o início. Nos meus tempos de juventude, a minha maior vitória foi o Campeonato Mundial Júnior (sub-20), quando tinha 15 anos.
 
Em Portugal é conhecido quase exclusivamente pelas medalhas de ouro em Pequim, nos Jogos Olímpicos. Como se descreve como pessoa e atleta?
 
Não consigo fazer uma distinção entre ser apenas o Usain Bolt e o atleta Usain Bolt. Sou sempre o mesmo, adoro divertir-me e gozar a vida essencialmente.

No que ao atletismo diz respeito, a Jamaica é um país de velocidade. Qual é o segredo de tanto sucesso, o sistema escolar, métodos de formação, o apoio do Estado para os jovens talentos?

Felizmente temos muitos jovens talentos na Jamaica. Todos os jovens corredores surgem através do sistema escolar. Temos os conhecidos campeonatos Boys & Girls High School em Abril, o maior meeting de jovens na Jamaica, que dá maior confiança aos mais novos, não correm apenas por correr, correm por objectivos e depois temos também bons treinadores.

Após um ano cheio de sucessos Olímpicos - três medalhas de ouro, o recorde mundial dos 100 e 200 metros - quais são os objectivos para o Mundial do Atletismo, em Berlim, no Verão?

Vou a Berlim para vencer o Mundial, é o meu primeiro grande objectivo deste novo ano.

Em Pequim, durante os Jogos Olímpicos, Usain Bolt mostrou que os limites humanos de velocidade ainda estão longe de alcançar. Quais são os seus objectivos nos 100 metros neste ano?

Não tenho uma marca definida, acho que não devo fazer isso. Interiormente é óbvio que desejo retirar sempre alguns segundos nas provas que disputo, mas vou apenas tentar ganhar corridas e só depois é que pensarei se o meu tempo podia ou não ter sido melhor.
 
Existe uma pergunta que certamente os amantes da modalidade há muito que desejam ver esclarecida. Afinal porque abrandou nos últimos metros da final dos 100m nos JO?
 
Quando reparei que ia ganhar a prova só senti vontade de comemorar, não estava a pensar em qualquer recorde mundial ou olímpico, estava apenas feliz e queria demonstrá-lo. Sou emotivo, corro por prazer e não por recordes. É como uma qualquer emoção no futebol quando se marca um golo, rejubilei. Não penso em arrependimento, penso apenas que fui campeão olímpico, acima de tudo é o mais importante.

Comemorou todas as vitórias de uma forma muito pessoal, mostrando que o atletismo não é apenas alta competição. No entanto, os festejos não agradaram ao presidente do COI, Jacques Rogge, o que pensa sobre isso?

Nem sequer perco tempo a pensar nisso. Tenho a certeza que 99% das pessoas gostaram dos meus festejos, isso é que importa.

Onde guarda as três medalhas de ouro que conquistou em Pequim?

Estão todas num cofre num banco em Kingston [capital da Jamaica]. Sempre que vou a casa, vou ao banco e passo algum tempo a olhar para elas.

Comentava-se bastante na altura que houve muitos recordes batidos devido a incentivos financeiros. É verdade que ganhou um milhão de dólares pelo recorde mundial?

É pura mentira, não houve qualquer prémio de um milhão de dólares.

Recebe algum subsídio da federação jamaicana?

Não, não é prática comum. A federação apenas me ajudou quando mudei de Trelawny para Kingston, quando estava a começar mais a sério no Atletismo.

Há rumores de que você ganha 200 mil euros por corrida. Acha que é bem pago, já que faz em média 20 corridas por temporada?

Comparado com outros grandes desportos mundiais, não me considero bem pago, não ganho tanto como esses atletas.

Após o sucesso do atletismo jamaicano em Pequim, os Estados Unidos da América fizeram-vos um desafio: uma desforra. Aceitaram?

Sim, está tudo marcado para os Mundiais de Atletismo, em Berlim, no próximo Verão. Veremos quem estará mais forte.

Além da forte formação desde tenra idade, que outros factores podem explicar a superioridade de Usain Bolt?

Sempre tive bons treinadores durante a minha formação e isso foi fundamental, mas acredito também que devo ter nascido com algum talento especial para a velocidade. Fora isso não encontro nada de muito diferente em relação aos outros atletas.

O português Francis Obikwelu também competiu consigo. Como o descreve?

É uma óptima pessoa, sempre bastante divertido e simpático, daquelas pessoas que é um prazer ter por perto.

Pode dizer-se que Obikwelu será sempre um nome forte do atletismo mundial?

Absolutamente. Foi um dos melhores sprinters do mundo durante o tempo em que realizou provas.

Além do atletismo tem outro desporto que aprecie?

Gosto bastante de futebol, basquetebol e críquete.

Na Jamaica, fruto da ligação a Inglaterra, a Premiership e o Liverpool são os principais amores no futebol. Também é o seu caso?

Sim, a minha liga preferida é a Inglesa, mas quanto a clubes apoio o Manchester United.

Falou-se recentemente na possibilidade de realizar alguns treinos de velocidade com Cristiano Ronaldo, é verdade?

Não. Apenas recebi uma camisola autografada do Cristiano Ronaldo, a quem aproveito, desta maneira, para agradecer a sua generosidade.

Essa possibilidade deixa portanto de existir?

Não sei, comentou-se que lhe poderia dar uma dicas sobre velocidade, nada mais que isso.

Seria um adversário fácil de bater nos 100m?

Não é o seu desporto, seria bastante complicado para ele. Mas se trabalhasse para tal, se aprende-se as regras principais, a partir, tenho a certeza que dava luta nos primeiros 50m. Mas ele é um futebolista, não um corredor.

Considera-o como o melhor jogador do mundo?

Foi eleito justamente como tal, é bastante emocionante ver um jogo de Cristiano Ronaldo, é realmente fantástico.

Conhece ou tem planos para visitar Portugal?

Não conheço, mas os portugueses com quem participei em provas sempre me falaram muito bem e tenho a esperança de visitar Portugal em breve.

Palmarés

- Campeão olímpico em Pequim 2008 nos 100, 200 e 4x100 metros

- Recordista mundial dos 100 metros (9.69 segundos)

- Recordista mundial dos 200 metros (19.30 segundos)

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