"O homem mais divertido que tive o prazer de conhecer"
Estava confinado a uma cadeira de rodas há 44 anos e há 32 que já só conseguia comunicar com o auxílio de um computador e de um sintetizador de voz, mas isso não o impediu de fazer a sua vida. Casou, teve filhos, viajou, teve ideias originais na ciência e comunicou-a como poucos conseguiram fazê-lo. Como diz o físico português Carlos Fiolhais, Stephen Hawking tornou-se uma espécie de "ícone pop da ciência, como não havia desde Einstein".
Ressalvando a diferença entre os dois enquanto físicos e cientistas - "não quero compará-lo a Einstein porque do ponto de vista científico, Einstein está noutro nível", diz - o professor e investigador da Universidade de Coimbra destaca "a empatia de Stephen Hawking com o público", uma situação a que doença acabou por não ser alheia.
As suas limitações, e a forma como conseguiu contorná-las, não deixando de levar uma vida intensa, produtiva e até com muito humor, tudo isso acabou por ser um exemplo, uma inspiração, "e uma mensagem de humanidade". Enfrentando as contrariedades "e vencendo as limitações, conseguiu não desistir de nada e fazer ciência, viagens, congressos, aparições nos media, manter a curiosidade e levar uma vida plena até aos 76 anos". Isso tornou-o uma figura famosa e uma referência, a que ele próprio aludia com algum humor. Assim: "A desvantagem da minha celebridade é que eu não posso ir a qualquer lugar sem ser reconhecido. Não serve de nada usar óculos de sol e uma peruca. A cadeira de rodas trai-me".
Foi assim também por cá, em 2014, quando esteve em Lisboa e andou pela Baixa e foi aos pastéis de Belém. Foi assim há dois anos, quando, como turista a bordo de um cruzeiro, aportou ao Funchal, pela segunda vez, porque tinha gostado tanto da primeira que resolveu regressar. "Já lá tinha estado antes, prometeu voltar, e voltou", conta Carlos Fiolhais, lembrando uma frase Hawking ao Diário de Notícias da Madeira, aquando da sua passagem pelo Funchal há dois anos: "O universo é extraordinário porque há sítios como este. Uma das razões porque vale a pena viver é vir à Madeira".
Já enquanto físico, destaca Carlos Fiolhais, a sua "teoria mais atrevida, e que é extraordinária, é a ideia de os buracos negros não serem negros, mas poderem irradiar luz e partículas". Isso nunca foi comprovado e sabe-se que deverá ser muito difícil, por o fenómeno ter necessariamente uma expressão muito insignificante. Mas, isso "não quer dizer que a teoria não seja interessante, e eventualmente até válida", nota Carlos Fiolhais. "Não temos meio de saber da sua validade".
Lembrando o homem a que deu vida no filme "A Teoria de Tudo" - o que lhe valeu um Óscar, em 2015 -, o ator Eddie Redmayne lamentou a perda de "uma mente verdadeiramente bela, um cientista extraordinário e o homem mais divertido que tive o prazer de conhecer".