O herói e os monstros
Até aqui, Beowulf era o mais antigo poema épico anglo-saxónico, ambientado em terras nórdicas, de autoria anónima e datado do século VIII, e exaustivamente analisado por eruditos como J.R.R. Tolkien, que conta a história do guerreiro Beowulf e dos seus combates contra o monstro Grendel, a pérfida mãe deste e um maléfico dragão. Deu origem a dois filmes manhosos e vistos por muito pouca gente, um em 1999 com Christopher Lambert, e outro em 2005 com Gerard Butler.
A partir de agora, Beowulf passa também a ser um dos filmes mais caros de sempre (estreia-se hoje em Portugal na versão 3-D, e em versão normal no dia 22), realizado por Robert Zemeckis ao preço de 150 milhões de dólares (cerca de 102 milhões de euros) - mais de um milhão de dólares por minuto.
Depois da trilogia O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson (2001-2003), e de Polar Express, do mesmo Robert Zemeckis (2004), Beowulf é o terceiro filme a utilizar, e em grande escala, a inovadora tecnologia conhecida por motion capture (ou mocap), pela qual computadores e sensores sofisticadíssimos captam as mais ínfimas expressões e os menores movimentos dos actores, transpondo-as para formato digital, para depois as animar e manipular a bel-prazer. A inovação tecnológica chegou também à projecção em 3-D, com projectores de alta definição, que melhoram a qualidade e o volume da imagem, e óculos polarizados, que acabam com as dores de cabeça (e de nariz).
O trabalho de efeitos especiais digitais em Beowulf estendeu-se ainda, por exemplo, à maquilhagem e às alterações físicas (Ray Winstone, que interpreta o guerreiro, por exemplo, foi envelhecido por computador, que também lhe forneceu musculação extra). Este é um dos mais ambiciosos filmes de efeitos especiais da história do cinema, colocando-se por isso numa fronteira de tal forma ambígua entre o fotorealista e o virtual, que a Academia de Hollywood teve de reflectir antes de o pôr na lista dos candidatos à nomeação ao Óscar da Melhor Longa-Metragem Animada.
O projecto de Beowulf data de 1996, quando o argumentista (Pulp Fiction), realizador e produtor americano Roger Avary, se aliou ao autor britânico Neil Gaiman para escreverem o argumento. A ideia era fazer um filme de pequeno orçamento, mas ninguém o quis financiar. O dinheiro, mais a dimensão épica a sério e os computadores, só apareceram com a entrada de Robert Zemeckis como realizador, e dos milhões da Paramount e da Warner Bros.
O elenco de Beowulf também é esmagador: Ray Winstone, Anthony Hopkins, John Malkovich, Crispin Glover (irreconhecível, porque deformado digitalmente para ser Grendel), Robin Wright Penn e Angelina Jolie na mãe de Grandel, má como as cobras mas principal favorita a Miss Monstro Século VIII. |