O Havai e algumas línguas que por lá se falam
O Havai (Havaí, no Brasil) é um arquipélago do Pacífico, constituído por 137 ilhas vulcânicas que, em conjunto, perfazem pouco mais de 28 mil km2 de extensão. James Cook, explorador britânico que aí chegou em 1778, batizou-o como Sandwich Islands, em honra do 4.º conde de Sandwich (o mesmo que, de acordo com a lenda, terá inventado as sanduíches). As ilhas foram desde sempre governadas pelos polinésios; o governo do arquipélago foi centralizado em 1810 por Kamehameha I, instituindo uma monarquia que durou até 1894. O nome Havai e a língua havaiana foram oficializados em 1839, no reinado de Kamehameha III, pela Magna Carta Havaiana, que antecedeu a primeira Constituição do país, em 1840. Após crescente ingerência nos assuntos do Havai, os EUA invadiram-no militarmente em 1898 e, em 1900, anexaram-no, transformando-o num "território". Só em 1959 o Havai se transformou efetivamente no 50.º Estado da União.
A língua havaiana é uma língua polinésia da família das línguas austronésias, a que pertence o tétum, de Timor-Leste. Até à instalação dos europeus, foi uma língua ágrafa, permitindo, porém, o desenvolvimento das ricas cosmogonia e cultura havaianas, assim como o de uma importante literatura oral, expressa em cantos, preces, histórias, mitos e sabedoria popular. A partir de 1824, os missionários norte-americanos, que acreditavam que perderiam rapidamente o controlo da população se esta se tornasse proficiente em inglês, criaram a primeira ortografia do havaiano, a par de um sistema de ensino ministrado nessa língua, visando a ocidentalização e cristianização da população; levaram também a primeira imprensa, permitindo a publicação de jornais e da Bíblia nesta língua.
É sobretudo a partir de 1850 que começa a crescer na sociedade havaiana a necessidade de escolarização em inglês, de forma a fazer face à presença crescente de imigrantes norte-americanos, assim como à sua crescente influência nos negócios e na política. Começou então o declínio da língua havaiana. Em 1896, durante a república (1894-1898), assistiu-se à introdução de um sistema de educação apenas em inglês, banindo-se o havaiano da escola. A anexação, em 1900, dá início a um período negro da história da língua havaiana, que, acredita-se, contaria no início de década de 1970 com cerca de dois mil falantes.
A partir dos anos 1950, tem início um movimento, ainda em curso, de revitalização das língua e cultura e havaianas, como resposta ao colonialismo. Em 1978, a Convenção Constitucional do Estado do Havai oficializou o havaiano, que passou a ser estudado nas universidades.
O Havai constitui o estado mais multilingue dos EUA. O inglês é dominante na administração, ensino e usos oficiais. A diversidade étnica e linguística propiciou o surgimento de um crioulo havaiano, chamado pidgin havaiano ou inglês crioulo do Havai, mais falado do que a língua havaiana. De acordo com estudo levado a cabo entre 2009 e 2013 nos EUA, os dados respeitantes ao Havai (publicados localmente em 2016) revelaram que 25,4% da população usava, em casa, outra língua que não o inglês e que, desses, 48,8% declararam não falar inglês bem. Além do inglês, eram faladas cerca de 130 línguas no Havai, sendo as 10 mais importantes tagalo e ilocano (das Filipinas), japonês, espanhol, havaiano (com apenas 18 610 falantes, 5.7% da população), chinês, coreano, samoano, vietnamita e cantonês. O português, introduzido no Havai entre 1878 e 1913, embora em 21.º lugar, com 1915 falantes, 0,6%, parece manter-se ainda vivo por lá.
14 de agosto de 2023
Mea culpa
Na versão original deste texto, referiu-se que o Havai se tornou estado da União em 1900. Está errado. Em 1900, ocorreu a anexação do arquipélago como território dos EUA. A 21 de agosto de 1959, após referendo local realizado em junho desse ano, foi proclamada oficialmente a condição do Havai como estado da União, pelo então presidente Dwight D. Eisenhower.
Muito se agradece o reparo feito por um leitor do DN.
Professora e investigadora, coordenadora do Portal da Língua Portuguesa