O pano sobre o alto da cabeça esconde, ao que parece, a ausência de parte do crânio, rebentada durante o último combate de Velupillai Prabhakaran com o exército governamental do Sri Lanka na madrugada de terça-feira. O corpo do fundador e líder dos Tigres de Libertação do Eelam Tâmil (LTTE nas suas siglas em inglês) foi mostrado pelos militares cingaleses num vídeo difundido em todo o mundo..Camuflado vestido, chapa de identificação 0:01, pés descalços, as mãos brancas e engelhadas por acção da água pousadas em cima do abdómen. O exército diz que se trata do homem mais procurado do país, informação confirmada por aquele que foi um dos braços direitos de Prabhakaran e desertou em 2004, Vinayagamoorthy Muralitharan, conhecido por coronel Karuna, antigo comandante do LTTE para a região leste do país, hoje ministro para a Integração Nacional e Reconciliação.."Embora esteja um pouco triste por ele já não estar entre nós, o facto é que nunca ouvia ninguém. Sempre acreditou que a violência era a única solução", disse Karuna citado pela Press Trust of India, justificando com estas palavras a atitude das autoridades de Colombo de querer acabar através das armas um conflito de 26 anos impossível de solucionar pacificamente através do diálogo..O exército anunciou o fim da guerra - depois de um dos seus porta-vozes, o brigadeiro Udaya Nanay-akkara, ter referido que os militares estavam "100 por cento seguros" de que o corpo encontrado era o do líder tamil - o Governo confirmou o fim da guerra e até houve festa nas ruas de Colombo, a capital, para comemorar o ponto final num conflito que matou mais de 70 mil pessoas. No entanto, o porta-voz do LTTE, Selvarajah Pathmanathan, garantiu à imprensa internacional que nem Prabhakaran está morto nem a guerra terminou. O exército diz que vai fazer testes de ADN, utilizando para comparar os restos mortais do filho de Prabhakaran, Charles Anthony, morto horas antes do pai..O facto de ter evitado a captura durante 30 anos e escapado a várias tentativas de assassínio, aliado a um culto de personalidade que lhe emprestava uma espécie de aura deífica, Velupillai Prabhakaran parecia imune às balas e intocável por mortais. Endeusado pelos seus e demonizado pelo Governo, dir-se-ia, como Camões, que o líder tâmil parecia da lei da morte libertado..Os analistas atribuem em parte o colapso do LTTE ao excesso de confiança revelado pelo seu chefe, facto que o levou a acreditar na sua própria invencibilidade, subestimando o poder do exército e acreditando que podia ganhar militarmente a guerra: perante a hipótese de negociar com as autoridades de Colombo uma solução pacífica para o conflito, o LTTE foi deixando arrastar o processo de paz que começou em 2002 e acabou em 2008 num beco sem saída.."O erro fundamental de Prabhakaran, que era um hábil chefe guerrilheiro e um terrorista temível, foi o de se envolver numa guerra convencional contra Colombo desde há um ano a esta parte", disse o general suíço Alain Lamballe, citado pelo Tribune de Genève. O general Karuna afirma ter aconselhado Prabhakaran e o líder da ala política do LTTE, morto em 2007, a reformar a organização e a enveredar pela via pacífica: "O problema é que alguns próximos de Prabhakaran lhe estimularam o ego. Fizeram-lhe crer que era infalível, que nunca poderia ser derrotado."