O grande desafio de manter uma vida saudável durante mais tempo
Os indicadores são muitos e vêm de várias fontes, mas apontam todos no mesmo sentido: a população mundial está a envelhecer e depressa. Em 2018, pela primeira vez na história, pessoas com 65 anos ou mais superaram em número as crianças menores de cinco anos no mundo. E até 2050 uma em cada seis pessoas no mundo terá mais de 65 anos, cerca de 16%. Uma realidade galopante que colocou o tema do envelhecimento no palco dos principais fóruns de decisão e reflexão mundiais, com a ONU a declarar o "Envelhecimento Saudável" como o grande objetivo para a década (2021-30).
"A dinâmica populacional está a alterar-se nos países industrializados. Uma pessoa com 65 anos no Reino Unido, hoje em dia, pode esperar viver até aos 85. Quase 10 anos mais do que a geração dos seus pais. De acordo com a ONU, a expectativa é que até 2030 a proporção de pessoas com mais de 65 anos na população chegará a 22% no Reino Unido. O mesmo acontece relativamente a Portugal, havendo a expetativa de que esta população represente 27% do total em 2030, e 37% em 2080. Ambos os países têm muito que aprender para garantir uma vida ativa e de qualidade a esta população à medida que vai envelhecendo", diz ao DN Chris Sainty, embaixador britânico em Portugal, que esta quarta-feira (7) encerrará o 2º Fórum do Envelhecimento Saudável Portugal /Reino Unido, co-organizado pela Embaixada Britânica e pela Universidade de Coimbra.
Com a população a viver cada vez mais, ganha importância também a forma como se vivem esses anos "mais". Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal continua a ser um dos países onde a percentagem da população com limitações na realização de atividades habituais devido a problemas de saúde atinge uma maior expressão - a expectativa de vida saudável para um cidadão português de 65 anos, em 2019, situou-se em 7,3 anos, menos três do que a média europeia (10,3 anos). De resto, as condições de vida da população mais velha ganharam especial relevância durante esta pandemia de covid-19.
"A atual pandemia apenas tornou evidente que garantir um envelhecimento saudável é fulcral para todos países do mundo. Investir em investigação e inovação que permita a todos permanecerem ativos, produtivos, independentes e socialmente interligados durante o máximo tempo possível, é essencial para uma sociedade próspera no longo prazo", aponta Chris Sainty, explicando que o Reino Unido tem a temática do Envelhecimento Saudável como "um elemento central na formulação das políticas sociais e económicas".
O objetivo, diz, é "fazer do Reino Unido o melhor lugar do mundo para se envelhecer". Para isso, o país governado por Boris Johnson quer "garantir mais cinco anos de vida saudável e independente para a população sénior, reduzindo o desequilíbrio que existe entre as experiências de envelhecimento dos mais ricos e dos mais pobres".
"Portugal também tem desenvolvido políticas, investigação e inovação nesta área e é isto que queremos debater no nosso fórum. Debater desafios comuns, divulgar investigação nesta área, em conjunto e separadamente, e propor soluções inovadoras que poderão ser aplicadas em países que enfrentam os mesmos desafios de saúde pública a longo prazo", acrescenta o embaixador britânico, que revela que cerca de 35% dos quase 35 mil britânicos a viver em Portugal serão pessoas acima dos 65 anos.
"O tema do Envelhecimento Saudável tem sido desenvolvido nos diversos pilares de atuação da Universidade de Coimbra, nomeadamente nas áreas da investigação, inovação e ensino pós-graduado. E as colaborações com parceiros do Reino Unido têm assumido uma importância fulcral no impacto das atividades da UC neste campo", refere, por seu lado, o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, que salienta os desafios que o envelhecimento da população coloca numa região especialmente envelhecida como aquela em que Coimbra se insere.
"A região centro de Portugal apresenta a maior taxa de população acima dos 65 anos, o que nos coloca imensos desafios para o futuro próximo - sendo que esses desafios não passarão necessariamente por aumentar significativamente a esperança média de vida, mas sim melhorar substancialmente a qualidade de vida que teremos nos anos que nos restam. E a Universidade de Coimbra terá o relevante papel da criação do conhecimento que servirá de base às inovações que transformarão a nossa sociedade", diz o reitor, destacando a instalação em curso, em Coimbra, do MIA - Multidisciplinary Institute of Ageing, o primeiro instituto de investigação do Sul da Europa focado nas bases moleculares e biológicas do envelhecimento.
"É um dos projetos bandeira da UC (contando também com a Universidade de Newcastle como um parceiro do Reino Unido) e será o motor da investigação de excelência que se fará no nosso país nestas áreas", frisa Amílcar Falcão.
O 2º Fórum do Envelhecimento Saudável Portugal/Reino Unido decorre em formato digital e pode ser seguido no canal de Youtube da Universidade de Coimbra