O futuro é com Laia, Morais e Arnaudov

O novo ano pode ficar marcado por feitos de vários atletas portugueses que estão a despontar em diversas modalidades. Surf, canoagem e lançamento de peso estão entre os desportos mais promissores
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Kikas, um predestinado a desbravar novos mares

Bem se pode dizer que ele é um predestinado: nasceu com a paixão pelo desporto vincada nos genes (pai, Nuno, e tio, Tomaz Morais, foram referências do râguebi nacional) e cedo se apaixonou pelas ondas. Só podia dar surfista - e deu. Com 24 anos, Frederico Morais cumpriu o seu desígnio: assegurou a promoção à elite mundial do surf. E vai estrear-se por lá em 2017.

Kikas, como é conhecido, vai desbravando novos mares: enquanto o surf ganha cada vez mais expressão (vai mesmo estrear-se no programa olímpico em Tóquio 2020), Portugal volta a ter um representante no circuito mundial da modalidade - o Championship Tour, da World Surf League.

O sucessor do pioneiro nacional Tiago Saca Pires (presente no circuito entre 2008 e 2014) garantiu a qualificação no início de dezembro, após dois brilharetes nas etapas finais das Qualifying Series - foi 2.º tanto na Hawaiin Pro como na Vans World Cup, ambas realizadas no Havai, um dos palcos sagrados da modalidade. "Este era o meu maior sonho, era tudo o que queria. Todos estes anos trabalhei para ele", disse ao DN o surfista do Guincho (Cascais).

"Todos estes anos", neste caso, é mesmo muito tempo. Foi um trabalho intenso, desde que, com 5 ou 6 anos, Frederico se endireitou pela primeira vez numa prancha. O pai, Nuno Morais - ex-jogador de râguebi, internacional português durante 12 anos e irmão do antigo selecionador Tomaz Morais -, cedo lhe notou o jeito e incentivou-o a seguir o sonho. E o jovem surfista foi seguindo na crista da onda - com férias em família, no Havai e na Austrália, para aprimorar o talento, e sucessivos títulos nacionais de todos os escalões (aos 14 anos, já era campeão de sub-20).

Agora, após um aperitivo (participou em Pipe Masters, última etapa do circuito mundial, por se encontrar na luta pela triple crown havaiana - acabou essa luta em 3.º) segue-se o desafio mais difícil - e apetecível. A partir de 14 de março, na Gold Coast (Austrália) arranca o World Championship Tour de 2017. E, como diz, "é tempo de definir novos sonhos".

A quase médica que lidera a nova geração de canoas e caiaques

Há modalidades em que Portugal sempre teve sucesso (relativo), há aquelas que parecem viver de fenómenos isolados (com o seu quê de irrepetível) e, depois, há a canoagem. Após a afirmação da "geração de ouro", que tem colecionado sucessos internacionais (25 medalhas em Europeus e Mundiais de seniores, nos últimos onze anos), já desponta uma nova e abrangente prole de promessas das canoas e dos caiaques. Com um vasto palmarés como júnior e sub-23 e uma presença nos Jogos Olímpicos no currículo, Francisca Laia é a sua líder.

Kika, de 22 anos e natural de Abrantes, é uma das promessas que vão florescendo no Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho.

O seu potencial está à vista desde que conquistou a medalha de bronze nos Europeus de juniores, em K1 200 metros, em 2011 e 2012. Depois disso, foi bronze, em K2 500, nos Europeus de sub-23 de 2014, e bronze e prata em K1 200, nos Europeus e Mundiais de sub-23 (respetivamente), em 2015. E a solo (ouro em K1 200) ou ao lado de Maria Cabrita (prata em K2 200 e ouro em K2 500) alcançou três pódios nos Mundiais universitários de 2016.

Como boa parte dos canoístas radicados em Montemor-o-Velho, Francisca Laia concilia a atividade desportiva com o percurso escolar na Universidade de Coimbra: é uma quase-médica, estudante da Faculdade de Medicina coimbrã. "Não recordo a minha vida sem canoagem e foi à volta dela que conciliei tudo o resto", diz a atleta, que se formou no Clube Desportivo Os Patos (de Rossio ao Sul do Tejo, Abrantes) e, em 2016, se transferiu para o Sporting. Este ano marcou também a estreia de Francisca no palco olímpico (16.ª em K1 200, no Rio 2016): foi a primeira a chegar lá, de entre a promissora geração - que inclui figuras como Maria Cabrita, Bruno Afonso, Nuno Silva e Tiago Tavares (entre outros). No entanto, será em 2017 que Kika poderá começar a trilhar a sua afirmação como sénior (mesmo que os candidatos a medalhas sejam os mais velhos): há Europeus, em julho, em Plovdiv (Bulgária), e Mundiais, em agosto, em Racice (República Checa).

O búlgaro ícone da capacidade de reinvenção portuguesa

Tsanko Arnaudov é só um exemplo de como o atletismo nacional, outrora dependente de fundistas, se reinventa noutras especialidades ou de como Portugal já colhe frutos da imigração de Leste chegada na primeira década dos anos 2000. Mas o luso-búlgaro é um exemplo particularmente bem-sucedido e com estatuto promissor, depois de ter conquistado a medalha de bronze de lançamento de peso nos Europeus de atletismo de 2016.

O país deu por ele quando, em junho de 2015, bateu o recorde nacional de lançamento do peso, que pertencia a Marco Fortes desde 2012 (fez 21,06 metros). Então já Tsanko - nascido na Bulgária e emigrado para Portugal aos 12 anos, na companhia dos pais - se reinventara. Era um corredor de meio-fundo que o colossal crescimento corporal na adolescência converteu em lançador de peso (mede 1,98 metros e pesa 151 quilos).

O atletismo português, mais habituado a sucessos no meio-fundo e fundo, tem feito uma transformação similar: nos últimos anos deu mais nas vistas pelos resultados nos lançamentos e nos saltos (com Nelson Évora e Patrícia Mamona à cabeça).

Mas o atleta do Benfica personifica também outra evolução: a do desporto nacional, à boleia dos filhos de imigrantes do Leste - como ele, há outras figuras, como o judoca Sergiu Oleinic ou a nadadora Tamila Holub (outra jovem promessa, de 17 anos e dupla medalhada nos últimos Europeus de juniores).

Hoje, com 24 anos, Tsanko - que é treinado por Vladimir Zinchenko, antigo lançador ucraniano radicado em terras lusas - garante que já se sente "mais português do que búlgaro". Afinal, são as cores nacionais que leva ao pódio: nos Europeus de ar livre (em Amesterdão, em julho), Arnaudov completou uma rara jornada para o atletismo português - seis medalhas no total.

Nos Jogos Olímpicos Rio 2016, mês e meio depois, não foi tão feliz (29.º lugar). Mas a sua candidatura a outros brilharetes está lançada. Em 2017, há Europeus de pista coberta - em março, em Belgrado (Sérvia) - e Mundiais de ar livre - em agosto, em Londres.

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