O futuro de todos nós discute-se na Escócia

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Amanhã terá início na Escócia a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, onde estará sobre a mesa a exigência da redução dos gases de efeitos estufa no planeta inteiro, ao mesmo tempo que procuramos promover o crescimento económico, o desenvolvimento social, a boa governação e o combate à pandemia e aos seus efeitos.

Para quem pense que o impacto das alterações climáticas está a ser exagerado ou que a atividade humana não é assim tão grave, informa-se que há um consenso científico mundial que não deixa margem para dúvidas. A ciência diz-nos que temos de embarcar na mais profunda revolução energética dos últimos 200 anos e diz-nos também que não há mais tempo para debates, discussões e adiamentos. A altura de agir é já porque não o fizemos ontem.

Não tenhamos ilusões sobre o que nos espera. Implementar políticas de transição energética rápidas afetarão profundamente todos os países, todas as economias, todas as empresas e organizações, todas as famílias e cada um de nós. No caso da União Europeia, que nos toca mais diretamente, a comissão propôs um programa que prevê a diminuição em 55% da emissão dos gases com efeito estufa nos próximos oito anos e a neutralidade carbónica até 2050, o chamado "Fit for 55".

O mundo está preparado para o que aí virá? Não. Temos alternativas? Também não. Mas, e para que tem a sorte de viver em democracia, não conseguiremos mudar os hábitos velhos de séculos contra a vontade das pessoas, sob pena de destruir o contrato social que garante o nosso sistema político e permite que vivamos pacificamente em sociedade.

De facto, quem nos governa está confrontado com o pesadelo de todas as democracias: ter de fazer o que quase ninguém quer e ter de o fazer já. Mas se a tarefa que nos aguarda é tremenda, também é verdade que as condições para o fazermos são únicas.

Para começar, e como dito antes, não temos alternativa.
E se isso não bastar, tenhamos em conta que a tecnologia das energias alternativas está madura e os custos têm vindo a baixar de forma constante. Por outro lado, estamos no início de um inverno em que as famílias e as empresas terão de gastar mais para manterem as luzes acesas, as máquinas a trabalhar, os carros a andar e os aquecimentos a funcionar, tornando a sustentabilidade energética visivelmente mais atrativa.

Acresce ainda que, juntamente com a revolução ambiental, estamos a viver uma revolução digital que alterará ainda mais as rotinas, os processos e os métodos de trabalho que considerávamos eternos e que descobrimos nos últimos 18 meses que afinal não o eram.

Tudo isto são condicionantes que ajudam mas não são determinantes. Determinantes serão as lideranças e as sociedades que terão de enfrentar a realidade, sem timidez, facilitismos ou falsas promessas, trabalhando com todos e cada um para sermos capazes de mudar o que teremos de mudar sem destruir o sistema político e social que se baseia na legitimidade da representação política democrática.

Na Escócia discute-se o nosso futuro coletivo e a ciência diz-nos que nada ou pouco fazer não são alternativas. Assim tenhamos a coragem coletiva para fazermos o que será muito difícil mas indispensável, se quisermos ter um planeta que, a curto prazo, seja capaz de sustentar a vida.

Investigador associado do CIEP / Universidade Católica Portuguesa

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