O futuro a partir lá de casa
Para que servem as prateleiras a abarrotar de livros, uns já muito amarelados? E as estantes de CD escrupulosamente dispostos por ordem alfabética e género musical? De que serve ofender-me quando alguém sugere encaixotar tudo, com muito jeitinho, e levar para a arrecadação? Há quanto tempo não vou ao Facebook, porque já me cansa a linguagem desta rede social, que ainda assim continua a fazer as delícias de milhões de pessoas, de cada vez mais avós? Recentemente, pesei, inclusive, os prós e contras de fechar a minha conta, e a decisão ainda está por tomar. Esta sou eu, uma qualquer quarentona da geração X.
Agora, a millennial que tenho em casa. Facebook nem pensar. Aliás, nem pensar numa rede social onde a mãe ouse aparecer. A música, essa, é devorada através do Spotify e do YouTube. Os filmes e séries só no Netflix e os livros, que ainda vão escapando, são já, por vezes, substituídos pelas fanfictions, plataformas onde se cruzam fãs de artistas, que escrevem mini-histórias, reais ou ficcionadas, sobre os seus ídolos. Tudo em inglês. As notícias vão aparecendo, à sorte da partilha do grupo de amigos, em sites que nunca vi. E a reação perante a minha perplexidade sobre o desconhecimento da fonte de informação não merece, sequer, ser assinalada. A roupa é meticulosamente escolhida em sites, muitas vezes estrangeiros, e as compras acabam por ser feitas online.
Isto é parte de nós lá em casa. Uma viagem ao futuro, não muito longínquo, criado pelos millennials, os que nasceram entre a década de 80 do século passado e os anos 2000. Um futuro que passa pela morte dos shoppings e pelo fim do Facebook, como escreveu, no final do ano passado, a brasileira Flavia Gamonar, uma professora universitária e mestre em Media e Tecnologia. De facto, na sharing economy, de que serve comprar algo que pode ser partilhado até ao seu esgotamento. E com o comércio eletrónico, qual será a função das lojas físicas, a não ser a de dispor de uma secção de trocas. Nos Estados Unidos, um fotógrafo dedicou-se a fotografar shoppings abandonados. O material, revelador, está compilado no livro Black Friday.
Muito simples. A forma de viver mudou e ainda está a mudar e, logicamente, qualquer semelhança entre a forma de consumir hoje e daqui a dez anos será mera coincidência. Os novos consumidores vão exigir três coisas: instantaneidade, conectividade e exclusividade. É verdade que as previsões não passam disso mesmo, mas, para já, este futuro que se antecipa agora, em 2016, sugere um maior conhecimento da tecnologia e da sua utilização, logo um maior conhecimento de nós próprios e de quem nos rodeia, logo um maior conhecimento do mundo e do queremos dele. Boa viagem!