O fim do pacto de não agressão entre Pedro Sánchez e Susana Díaz

PSOE não quer ser apanhado de surpresa numa eventual antecipação das eleições andaluzas e avança já para primárias para escolher o candidato, reacendendo inimizades antigas.
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Depois de mais de dois anos de tréguas, o pacto de não agressão entre o secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, e a líder dos socialistas andaluzes, Susana Díaz, chegou ao fim. No rescaldo da derrota do partido em Madrid, a direção nacional forçou a antecipação das primárias na Andaluzia, para eleger o candidato às próximas eleições regionais. É a "última batalha" entre ambos, dizem em Espanha.

Díaz, de 46 anos, quer ser "a aposta dos militantes" que vão votar "em liberdade" naquele que acreditam ser o melhor projeto para recuperar a Junta da Andaluzia (que o PSOE governou durante 36 anos). Mas, nas primárias, terá pela frente o atual autarca de Sevilha, Juan Espada, de 54 anos, que é a escolha da direção nacional e de Sánchez e propõe-se liderar um "grande projeto municipalista" que irá revolucionar a Andaluzia.

Nas últimas duas semanas, com a desculpa de conhecer a realidade das populações em plena pandemia e já antecipando a hipótese de ser forçada a ir a votos, Díaz tem percorrido a Andaluzia, testando a sua força. Ainda não há sondagens públicas a nível interno, mas nas pesquisas de opinião na Andaluzia Espadas é pouco conhecido. E, nas sondagens gerais, o PP do atual presidente da Junta, Juanma Moreno, está à frente dos socialistas.

A sevilhana Díaz nunca escondeu o seu desejo de chegar à liderança do PSOE, partido onde milita desde os 17 anos e no qual foi subindo (aos 25 já era vereadora em Sevilha). Mas optou por não se lançar na corrida à sucessão de Alfredo Pérez Rubalcaba em 2014, apoiando então a candidatura de Sánchez. Dois anos depois, a história já era outra e em outubro de 2016, tudo parecia correr a seu favor.

Derrotado nas urnas em junho desse ano, Sánchez enfrentava uma rebelião interna no PSOE (liderada por Díaz) e optou por se demitir quando percebeu que estava em minoria. Dias depois, o partido votava a favor de apoiar, com a sua abstenção, a investidura de Mariano Rajoy, algo que Sánchez recusava. Díaz tinha o apoio do aparelho, mas não o dos militantes. Sánchez acabaria por ser de novo eleito líder do PSOE nas primárias de abril de 2017 e chegar à Moncloa (primeiro na moção de censura a Rajoy, em junho de 2018, depois pelas urnas).

Entretanto, Díaz tinha voltado a centrar as suas atenções na Andaluzia, que presidia desde setembro de 2013 (graças a um escândalo de corrupção que afastou o então presidente, José Antonio Griñán). Mas nas eleições regionais de dezembro teve o pior resultado do partido em anos e, apesar de vencer, não foi suficiente para voltar a formar governo, diante da aliança entre o PP de Moreno e o Ciudadanos de Juan José Marín, com o apoio da extrema-direita do Vox que se estreava num parlamento regional. Foi o fim da hegemonia do PSOE na região .

Parecia que Díaz, agora líder da oposição andaluza, tinha os dias contados à frente do PSOE regional, com o aumento de vozes que defendiam uma renovação, mas ela resistiu a tudo - até lhe foi dada a hipótese de ser presidente do Senado espanhol, que recusou. "Não me interessa o poder pelo poder", repetiu esta semana. Nos últimos tempos, crescia a pressão para antecipar as primárias para escolher o próximo candidato socialista à Junta. E foi obrigada a ceder.

O PSOE não quer ser apanhado de surpresa se forem convocadas eleições regionais antecipadas ou a aliança entre PP e Ciudadanos se romper. Ambos os partidos alegam que a legislatura vai até ao fim, mas foi a ameaça de uma dessas ruturas no governo de Múrcia que desencadeou a rutura da coligação em Madrid e as eleições antecipadas de terça-feira. O PSOE acabou por lançar à pressa Ángel Gabilondo na corrida e ter o pior resultado de sempre na capital.

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