O Fim da Inocência foi o filme português mais visto

2017 foi um ano em que o mercado viu um crescimento de 15 milhões de espectadores. Filme de Joaquim Leitão não chegou ao top 40
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Quase 77 mil portugueses compraram bilhetes para o filme-escândalo de Joaquim Leitão, O Fim da Inocência, o campeão de receitas nacional. Apesar de uma imprensa negativa, esta adaptação do livro de Francisco Salgueiro foi de longe o filme com maior número de vendas de bilhetes. Num ano em que o público foi muito severo com o nosso cinema, O Fim da Inocência conseguiu números fortes, mas longe do que se poderia pensar de um objeto que tinha tudo para atrair os millennials, o público que mais compra bilhetes de cinema, e seus pais (esta história é baseada em factos verídicos sobre o flagelo dos adolescentes na noite de Lisboa...).

Longe vão os tempos em que o cinema realizado por Leitão chegava às massas, sobretudo se pensarmos que em 2017 lançou também Índice Médio de Felicidade, drama baseado no livro de David Machado, que não foi além de uns vergonhosos 8967 espectadores.

Seja como for, o campeão das desilusões terá sido Alguém como Eu, coprodução entre Portugal e o Brasil, realizada por Leonel Vieira. Um potencial blockbuster que no verão passado ficou-se pelos cerca de 24 mil bilhetes.

Nem tudo foram más notícias: Fátima, de Joaquim Canijo, levou 24 319 almas ao cinema, mais do que Alguém como Eu, enquanto o outro filme sobre o tema de Fátima, Jacinta, versão para cinema da série da TVI realizada por Jorge Paixão da Costa, chegou aos 45 561. E excelentes são os resultados de São Jorge, de Marco Martins. Este drama urbano atingiu 42 249 entradas, não muito menos do que as 43 600 do thriller de Sérgio Graciano, Perdidos, que tinha a obrigação de fazer mais.

A catástrofe está nos objetos mais delicados, os verdadeiros filmes independentes de qualidade, como o fortíssimo Verão Danado, de Pedro Cabeleira, que nem um milhar de entusiastas conseguiu reunir, ou o documentário poderoso de Salomé Lamas, Eldorado XXI, que apenas chamou 666 pessoas. Dessa leva terá sobrevivido A Fábrica de Nada, que se ficou nos 7547 pagantes. O cinema português precisa de apostar melhor na promoção dos seus filmes...

Num ano em que abril e dezembro foram os meses com melhor frequência nas salas, continuou a registar-se uma subida no número de bilhetes vendidos. 2017 foi marcado por dois fenómenos: Velocidade Furiosa 8, que superou os 4 milhões de euros de receita e atingiu a marca de 787 mil espectadores, bem como o novo Gru, que confirmando a popularidade das animações da Universal, chegou aos 589 mil bilhetes. Só estes dois papa-bilheteiras ajudaram às contas positivas neste balanço ainda incompleto: Star Wars - Os Últimos Jedi, de Rian Johnson, está em exibição e até agora já seduziu 342 mil espectadores. Se não fossem estes blockbusters, o mercado sofria substancialmente. Estamos a viver uma época em que os chamados filmes de qualidade só produzem efeitos positivos por altura dos Óscares. Os adultos estão a deixar de ir ao cinema. A culpa será apenas das plataformas digitais e da moda das séries de televisão?

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