O fascínio por Francisco leva cadete a estar com o Papa em Fátima
O alferes Fernando Batista é um católico com sorte. A terminar o curso militar de seis anos, vai pela primeira vez como voluntário da Academia Militar (AM) à celebração das aparições em Fátima. A razão é o fascínio por Francisco, nascido após assistir a uma missa com o Papa - junto de quem vai estar nestes dias 12 e 13 duas vezes.
"Fui a Roma em 2016 com a namorada e assisti a uma missa com o Papa... identifico-me muito com ele", conta ao DN. Por isso, e porque este "é o meu último ano na AM e queria aproveitar para ter a experiência de transportar o andor" com o Papa Francisco em Fátima, o cadete ofereceu-se agora como voluntário - e tem o bónus de também estar presente à chegada do Sumo Pontífice, que marca presença na celebração do centenário das aparições.
O finalista do curso de Transmissões - área dos computadores - da AM é um dos cerca de 170 cadetes do Exército que se ofereceram este ano para participar nas cerimónias do centenário das aparições de Fátima. O objetivo, que só podem cumprir por estarem fardados em representação da Academia Militar, é poder transportar o andor ou servir na eucaristia - levando os cálices ao altar, ajudando os sacerdotes e padres a dar a hóstia aos fiéis, entre outras ações.
"Vou participar na cerimónia de receção ao Papa, na base aérea de Monte Real, como comandante de um dos pelotões da AM" que vão fazer a guarda de honra juntamente com cadetes da Escola Naval e da Academia da Força Aérea, conta Fernando Batista. "É mais uma forma... é uma honra em poder participar também" na guarda de honra a prestar ao Sumo Pontífice no sábado, sublinha o alferes.
"É sempre diferente"
A alferes Diana Vila-Chã, um dos cinco alunos com quem o DN conversou esta semana na biblioteca da AM em Lisboa, vai ser a mais antiga dos cadetes que vão este ano a Fátima. Por isso, terá a seu cargo combinar com os responsáveis do Santuário onde e como participam nas cerimónias.
Ao contrário de Fernando Batista, a aluna do sétimo e último ano do curso de Medicina ofereceu-se todos os anos para estar em Fátima nos dias 12 e 13 de maio. "É uma honra, todos os anos é sempre diferente o que sentimos e faz sempre valer a pena... saímos sempre renovados", afirma a futura médica militar com um breve sorriso.
Natural de Barcelos, a fé católica já a tinha levado antes àquele espaço - mas, a exemplo da generalidade dos crentes anónimos, sem ter qualquer possibilidade de participar ativamente no evento como a farda lhe permite. João Pinto, aspirante do curso de Transmissões, emociona-se por breves momentos ao falar dos momentos que vai reviver pela terceira vez como cadete: "É um privilégio ir pela AM porque se pode levar o andor. Da primeira vez estava muito ansioso... é um momento importante, não estamos a pensar no peso" da estrutura sobre um dos ombros.
Diana Vila-Chã explica como os cadetes se organizam para transportar o andor - com cerca de 500 quilos - durante o meio quilómetro do percurso pelo santuário, em forma de U e escadas pelo meio: formam-se grupos de oito alunos cada, em que a prioridade é dada aos mais antigos - o que, neste caso e ao contrário do que é costume nas fileiras, significa que os maçaricos são poupados ao esforço.
Para os constituir, juntam-se cadetes com alturas semelhantes aos pares que depois se agrupam em quatro e que, normalmente, "não repetem [o transporte do andor] para se dar oportunidade a todos" - sendo que há sempre alguns dos mais modernos, como sucedeu à alferes no seu primeiro ano, que já não o conseguem fazer porque as trocas de grupos se fazem sensivelmente a cada 100 metros. As trocas vão-se fazendo em andamento, com os novos elementos a aproximarem-se por trás dos que vão ser substituídos ao sinal do elemento da organização que acompanha o cortejo.
Cristiana Santos, cadete do segundo ano do curso de Farmácia e uma futura oficial da GNR, também vai pela primeira vez a Fátima em representação da AM. Natural de Torres Vedras, já lá tinha estado em anos anteriores, e por esta altura, como escuteira - a exemplo de João Pinto, que é do Carregado. "Vou essencialmente pela crença que tenho, pela participação mais ativa, por poder levar o andar. Vamos com outros camaradas... vai ser m momento individual de reflexão, mas ir com os camaradas é importante pelos laços muito fortes que existem entre nós", conta a baixa e franzina Cristiana Santos - uma das poucas cadetes, com a alferes Diana, que se voluntariaram para participar este ano no centenário das aparições de Fátima.
André Neves é outro cadete da GNR, no segundo ano do curso de Medicina que foi pela primeira vez a Fátima como aluno da AM em 2016. Natural do Entroncamento e membro de "uma família crente" que habitualmente visita o santuário mariano. Estar ali "é renovar o espírito, é um momento de abertura que só quem vai lá por vontade própria sabe... vive à sua maneira" e que, neste ano, "torna-se mais importante" por ali estar o Papa Francisco, acrescenta Cristiana.
Fernando Batista, natural de Tomar e outro visitante frequente de Fátima, destaca a importância do santuário como "local de reflexão e aproximação a Deus". O alferes assinala a seguir o orgulho associado ao facto de ir numa delegação da AM: "Vamos em representação da profissão e de uma forma de estar na vida enquanto militares", na medida em que "é mais um ato de serviço da nossa parte" em prol da comunidade. João Pinto complementa aquele ponto de vista: "A vivência na AM é muito intensa, para o bem e para o mal. Poder ir e ver os nossos camaradas, o podermos partilhar momentos como este, enriquece-nos mais ou de uma forma diferente do que se fossemos sozinhos."
Decana do grupo, a alferes Diana Vila-Chã acrescenta: "Estamos, cada um de nós, com os seus motivos. É um momento pessoal, um renovar da esperança que nos leva lá. Mas, ao mesmo tempo, ir pela AM e partilhar com os colegas é um motivo de orgulho, tem uma energia positiva."