Enquanto cartografava e delimitava a fronteira entre Brasil e Bolívia ou descobria a nascente do rio Verde, o coronel Percy Harrison Faw-cett tinha outra ideia em mente: Z. O último dos exploradores vitorianos acreditava que a selva amazónica escondia os vestígios de um povo altamente culto. O britânico, cujas aventuras inspiraram Sir Arthur Conan Doyle a escrever O Mundo Perdido, desapareceu em 1925 no "inferno verde", consumido pelo seu sonho..Nascido em 1867 em Torquay, no Reino Unido, Fawcett estudou em Westminster antes de entrar para a Real Academia Militar. Em 1886, foi destacado para o Ceilão (Sri Lanka). .Foi aí que conheceu a futura mulher, Nina Agnes Paterson. Apesar de terem ficado noivos em 1890, só 11 anos depois viriam a casar-se, devido às interferências da família de Fawcett. Nessa altura, em 1901, já haviam regressado ao Reino Unido e o coronel frequentava o curso de cartografia da Royal Geographic Society (RGS), dando assim um passo de gigante no sonho de se tornar num explorador. .Mas as suas primeiras missões não foram rumo ao desconhecido, mas como espião no Norte de África. O seu primeiro contacto com a Amazónia iria apenas acontecer em 1906, quando foi convidado a delimitar a fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Desde cedo, Fawcett estabeleceu o seu próprio método de abordagem ao "inferno verde". .Em primeiro lugar, defendia a exploração em pequenos grupos, de forma a que pudessem sobreviver daquilo que a selva dava e não representassem uma ameaça para os índios. O coronel defendeu sempre uma política de não agressão. Os membros da equipa tinham ordens para nunca disparar contra os índios, havendo o relato de que uma vez acalmou um grupo de indígenas ao som de um acordeão. .Os exploradores levantavam-se de madrugada e caminhavam 12 horas, transportando o seu próprio equipamento, que pesava perto de 27 quilos. O problema é que nem todos tinham as defesas naturais de Fawcett, que ao contrário dos outros companheiros parecia nunca adoecer. Depois de cada missão, que chegava a durar dois anos, saía da Amazónia magro, esgotado, esfomeado, mas nunca doente. .O sonho de Z começou a desenrolar-se em Fawcett desde os primeiros anos na Amazónia, através das histórias que ia ouvindo à medida que se embrenhava mais na selva. Mas a exploração foi interrompida abruptamente, quando ao sair um dia da selva, em Setembro de 1914, descobriu que tinha começado a I Guerra Mundial. .Fawcett não hesitou e pegou em armas, lutando na Bélgica e em França (combateu na batalha de Somme). Durante a guerra, foi distinguido com a medalha de ouro da RGS "pelas contribuições para a cartografia da América do Sul". A sua mente continuava em Z, seguindo com receio as notícias sobre as novas expedições que começavam a recorrer a "novas tecnologias", como a rádio. .O problema de Fawcett era que estava sem dinheiro, tendo delapidado a pouco e pouco o seu património atrás de uma civilização que o mundo começava a duvidar que existisse. A sua credibilidade também era abalada pelo facto de acreditar piamente no ocultismo. A RGS deixou de o financiar e só a custo conseguiu finalmente reunir o dinheiro para aquela que seria a sua derradeira missão, confiante de que tinha localizado finalmente Z. .Ao seu lado, quando entrou na selva a 20 de Abril de 1925, estavam só duas pessoas: o filho mais velho, Jack, que herdara as suas capacidades de sobrevivência e aos 21 anos acompanhava pela primeira vez o pai, e o melhor amigo deste, Raleigh Rimmel. O último contacto com o mundo foi a 29 de Maio. Dois anos depois, esperava-se que Fawcett saísse vitorioso da Amazónia, com a prova da existência de Z, mas tal nunca aconteceu.