A cena passa-se no Porto, em 1999: integrado num grupo em visita àquela cidade, Henrique Mendes é solicitado um pouco por todo o lado. Pedem-lhe abraços, autógrafos, há mulheres mais atrevidas que lhe atiram um piropo. A todos responde com simpatia e graciosidade. Tem os cabelos brancos (abeirava-se já dos 70 anos), mas mantém intacto o charme e o saber estar de quem há muito se habituou ao estatuto, muito menos fácil do que se imagina, de galã da TV..Nascido em Lisboa a 2 de janeiro de 1931, começou a trabalhar cedo depois da morte prematura do pai. Muito jovem ingressou na Rádio Renascença e, daí, passou para a RTP, então em formação, tornando-se, desde logo, um dos primeiros e mais populares rostos do pequeno ecrã. Fez de tudo um pouco, desde a apresentação de concursos, programas de variedades, entrevistas até, numa época em que era ténue a fronteira entre o jornalismo e o entretenimento, à condução do Telejornal (que só tinha uma edição diária nesses tempos de canal único e emissão em horário de vespertino)..Em 1958, a jovem RTP associa-se à iniciativa do Diário de Notícias (uma parceria que dura ainda hoje) e transmite pela primeira vez o Natal dos Hospitais. A apresentação será entregue a Henrique Mendes, que, dando muito boa conta de si nesse que foi um dos primeiros diretos da televisão em Portugal, voltará em várias das edições seguintes. A partir de 1964, torna-se também o rosto de outro grande acontecimento televisivo, o Festival RTP da Canção, que apresentará várias vezes, contribuindo para a imagem de solenidade e glamour de que o evento então desfrutava. De smoking e impecavelmente penteado, Henrique Mendes arrebatará corações e, a meia voz, Lisboa há de comentar os seus amores com uma das maiores vedetas da música de então, Simone de Oliveira. Será, no entanto, em 1970 que a legião de fãs do locutor conhecerá o maior golpe, ao tomar conhecimento do casamento com a atriz Glória de Matos, que haveria de ser, afinal, o grande amor da sua vida. Sob esta aparente leveza, estava, no entanto, um trabalhador incansável, como nos diz Eládio Clímaco, que chegou à RTP quando Henrique Mendes já era "um dos grandes senhores da televisão em Portugal." Recorda-o "não apenas como um grande profissional, mas também como alguém disponível para ensinar os mais jovens, como foi o meu caso, e um bom amigo"..Mas Henrique Mendes e a RTP não foram felizes para sempre. Durante o PREC, em 1975, foi despedido num processo mais ou menos sumário que lhe causou muita amargura. Com a mulher, mudou-se para o Canadá, onde montou e dirigiu a estação de rádio Asas do Atlântico, em que grande parte da programação era dedicada à comunidade portuguesa residente naquele país, nomeadamente na região de Toronto. Voltaria a Portugal em 1979, dedicando-se ao seu primeiro amor profissional - a rádio - aos microfones da Rádio Renascença e é bem possível que tivesse permanecido nesse ambiente mais tranquilo (como admitiu ao programa da RTP, O Que É Feito de Si?) se, em 1993, a recém-nascida SIC não o desafiasse a voltar à televisão. E aconteceu o que talvez poucos (incluindo o próprio) esperassem: aos 62 anos, de cabelo branco, Henrique Mendes reconquistou a popularidade interrompida quase 20 anos antes..Ao lado de Catarina Furtado e Rita Blanco, faz furor no concurso Caça ao Tesouro e em breve terá um talkshow seu, Ponto de Encontro, em que a proposta é reunir de novo familiares e amigos há muito perdidos uns dos outros. Com a graciosidade que lhe era característica, estrear-se-á ainda como ator na série Médico de Família, ao lado de Rita Blanco e Fernando Luís, repetindo ainda o feito na telenovela (também da SIC) Lusitana Paixão..Henriques Mendes, que nunca fora esquecido pelo público, teve também, uma vez mais, o reconhecimento dos seus pares. Já no final dos anos 1990, voltou a ser distinguido com prémios importantes como o troféu Expresso 25 Anos, que em 1998 o destacou como uma das personalidades portuguesas do último quartel do século XX, e o Prémio Bordalo, atribuído em 1999 pela Casa da Imprensa. Morreu a 8 de julho de 2004, aos 73 anos. Na sua última entrevista (curiosamente dada à "sua" RTP, à também já falecida Helena Ramos) desvendaria um pouco o segredo do seu segredo: "Para se ser um bom comunicador, importa gostar das pessoas. Sem isso, nada feito."
A cena passa-se no Porto, em 1999: integrado num grupo em visita àquela cidade, Henrique Mendes é solicitado um pouco por todo o lado. Pedem-lhe abraços, autógrafos, há mulheres mais atrevidas que lhe atiram um piropo. A todos responde com simpatia e graciosidade. Tem os cabelos brancos (abeirava-se já dos 70 anos), mas mantém intacto o charme e o saber estar de quem há muito se habituou ao estatuto, muito menos fácil do que se imagina, de galã da TV..Nascido em Lisboa a 2 de janeiro de 1931, começou a trabalhar cedo depois da morte prematura do pai. Muito jovem ingressou na Rádio Renascença e, daí, passou para a RTP, então em formação, tornando-se, desde logo, um dos primeiros e mais populares rostos do pequeno ecrã. Fez de tudo um pouco, desde a apresentação de concursos, programas de variedades, entrevistas até, numa época em que era ténue a fronteira entre o jornalismo e o entretenimento, à condução do Telejornal (que só tinha uma edição diária nesses tempos de canal único e emissão em horário de vespertino)..Em 1958, a jovem RTP associa-se à iniciativa do Diário de Notícias (uma parceria que dura ainda hoje) e transmite pela primeira vez o Natal dos Hospitais. A apresentação será entregue a Henrique Mendes, que, dando muito boa conta de si nesse que foi um dos primeiros diretos da televisão em Portugal, voltará em várias das edições seguintes. A partir de 1964, torna-se também o rosto de outro grande acontecimento televisivo, o Festival RTP da Canção, que apresentará várias vezes, contribuindo para a imagem de solenidade e glamour de que o evento então desfrutava. De smoking e impecavelmente penteado, Henrique Mendes arrebatará corações e, a meia voz, Lisboa há de comentar os seus amores com uma das maiores vedetas da música de então, Simone de Oliveira. Será, no entanto, em 1970 que a legião de fãs do locutor conhecerá o maior golpe, ao tomar conhecimento do casamento com a atriz Glória de Matos, que haveria de ser, afinal, o grande amor da sua vida. Sob esta aparente leveza, estava, no entanto, um trabalhador incansável, como nos diz Eládio Clímaco, que chegou à RTP quando Henrique Mendes já era "um dos grandes senhores da televisão em Portugal." Recorda-o "não apenas como um grande profissional, mas também como alguém disponível para ensinar os mais jovens, como foi o meu caso, e um bom amigo"..Mas Henrique Mendes e a RTP não foram felizes para sempre. Durante o PREC, em 1975, foi despedido num processo mais ou menos sumário que lhe causou muita amargura. Com a mulher, mudou-se para o Canadá, onde montou e dirigiu a estação de rádio Asas do Atlântico, em que grande parte da programação era dedicada à comunidade portuguesa residente naquele país, nomeadamente na região de Toronto. Voltaria a Portugal em 1979, dedicando-se ao seu primeiro amor profissional - a rádio - aos microfones da Rádio Renascença e é bem possível que tivesse permanecido nesse ambiente mais tranquilo (como admitiu ao programa da RTP, O Que É Feito de Si?) se, em 1993, a recém-nascida SIC não o desafiasse a voltar à televisão. E aconteceu o que talvez poucos (incluindo o próprio) esperassem: aos 62 anos, de cabelo branco, Henrique Mendes reconquistou a popularidade interrompida quase 20 anos antes..Ao lado de Catarina Furtado e Rita Blanco, faz furor no concurso Caça ao Tesouro e em breve terá um talkshow seu, Ponto de Encontro, em que a proposta é reunir de novo familiares e amigos há muito perdidos uns dos outros. Com a graciosidade que lhe era característica, estrear-se-á ainda como ator na série Médico de Família, ao lado de Rita Blanco e Fernando Luís, repetindo ainda o feito na telenovela (também da SIC) Lusitana Paixão..Henriques Mendes, que nunca fora esquecido pelo público, teve também, uma vez mais, o reconhecimento dos seus pares. Já no final dos anos 1990, voltou a ser distinguido com prémios importantes como o troféu Expresso 25 Anos, que em 1998 o destacou como uma das personalidades portuguesas do último quartel do século XX, e o Prémio Bordalo, atribuído em 1999 pela Casa da Imprensa. Morreu a 8 de julho de 2004, aos 73 anos. Na sua última entrevista (curiosamente dada à "sua" RTP, à também já falecida Helena Ramos) desvendaria um pouco o segredo do seu segredo: "Para se ser um bom comunicador, importa gostar das pessoas. Sem isso, nada feito."