O estilo Spur Cola

Antes de a Coca-Cola ser autorizada em Portugal, bebia-se Spur Cola Canada Dry, um sucedâneo da marca mais conhecida do mundo. É difícil evocar-lhe o sabor, mas o anúncio ficou no ouvido. Quem se lembra?<br /><br />
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As gerações Nintendo nem sonham que a Coca-Cola esteve ausente de Portugal até ao ano da graça de 1977. «Água suja do imperialismo americano», para uns; bebida carregada de alegres vícios e indutora de «habituação», segundo o Dr. Oliveira Salazar, a Coca-Cola foi uma das embirrações mais democráticas da nossa História recente. Nem o lobby da marca, chefiado por um príncipe russo no exílio, chegou para convencer o então Presidente do Conselho. Muito menos o slogan encomendado a Fernando Pessoa, o célebre «primeiro estranha-se, depois entranha-se».
Quando a Coca-Cola era apenas acessível a quem vivia nos territórios colonizados – ou podia dar um salto afoito a Vigo, na melhor das hipóteses – existia a Spur Cola Canada Dry. Enfim, salvos. O facto de ser cá produzida agradava a um regime que, apesar de bruto, exaltava e protegia o produto nacional. Além das garrafas com relevo quadriculado, a Spur Cola tinha também um anúncio que deixava a milhas a subtileza de Fernando Pessoa. Qualquer coisa como: «Spur Cola, Spur gosto, Spur estilo… Spur Cola Canada Dry!» (acentuar o «Dry»).
Importa-se de repetir? «Spur gosto, Spur estilo»?! Ok, estamos a falar das calças de ganga manhosa, blusões de fazenda axadrezada, colarinhos orelha-Dumbo ou vestidos compridos de padrão florido, colheita tardia de Woodstock? Uma pessoa lembra-se da moda dos anos 1970 e perde logo a sede.
A Spur Cola Canada Dry desapareceu com a concorrência imperialista. A má publicidade continua. E do Canadá pouco ou nada se sabe, a não ser que tem uma bandeira com estilo.

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