O espólio de um naufrágio anunciado

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O anúncio da descoberta de destroços de uma nau pelas autoridades de Omã reavivou o interesse acerca da presença portuguesa na Ásia, para além de suscitar a natural curiosidade que implica tudo o que envolve "tesouros" subaquáticos. É um achado de relevo, embora conhecido há já algum tempo. O mais importante é o facto de se tratar de algo seguro: restam poucas dúvidas de que se trata dos destroços de duas naus (a Esmeralda e a S. Pedro) que naufragaram em 1503 junto à ilha de Al Hallaniyah. As fontes da época contam como os navios, que compunham uma armada sob o comando de Vicente Sodré, tio de Vasco da Gama - que entretanto regressara a Portugal -, soçobraram perante uma tempestade. Os portugueses haviam sido avisados do perigo iminente pelos pescadores da ilha, mas confiaram na robustez dos navios e das âncoras e recusaram-se a movê-los para paragens mais seguras.
É evidente que os materiais recolhidos são importantes para o trabalho dos historiadores, mas infelizmente não se trata de um "tesouro" dos filmes de Hollywood: são milhares de peças, mas na sua maior parte pedaços de cerâmica, pesos de pesca ou balas de mosquete e de canhão. Há também fragmentos de vidro, fivelas, objetos de metal de uso comum (como colheres), pedaços de peças de artilharia, grãos de pimenta, caroços de fruta ou cascas de coco. Dezenas de moedas de ouro e prata - entre elas o célebre e raro "índio" de prata -, um sino de bronze e uma placa de cobre com a esfera armilar e as armas do rei D. Manuel, entre outros objetos de maior valor, constituem naturalmente um motivo de interesse acrescido para o espólio hoje anunciado.

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