O especialista em futebol sul-americano que trouxe Falcao e outros craques
Luís Gonçalves foi o eleito de Pinto da Costa para assumir os destinos do futebol profissional do FC Porto. Aos 63 anos, o novo diretor-geral da SAD abraça o maior desafio da carreira, após ter recebido o convite para suceder a Antero Henrique no Dragão, uma casa que bem conhece. Ao que o DN apurou, a ligação será de quatro anos.
Após seis anos no Shakhtar Donetsk, na Ucrânia, Luís Gonçalves regressa a um clube com o qual começou a colaborar em 1984, 12 anos antes de assumir funções no futebol de formação do FC Porto. Foi a partir de 1997, porém, que liderou o cargo de maior responsabilidade, ao ser nomeado chefe da equipa de scouting do FC Porto, posto que manteve durante 13 anos, antes de aceitar um apelativo convite do Shakhtar.
Em 2006, o FC Porto promoveu uma revolução nos seus quadros e criou o famoso projeto Visão 611, liderado por Antero Henrique e que visava, num espaço de cinco anos, reorganizar o clube e intensificar a aposta na formação.
Luís Gonçalves foi, na altura, escolhido para ser o scout master, com um programa de observação de jogadores que assentava em quatro categorias: scout externo (observadores divididos por regiões), scout residente (divididos por especialidades), treinador (do escalão respetivo) e scout master. Criou-se o conceito de "equipas-sombra", um conjunto de jogadores no mercado que o FC Porto privilegiaria assim que um dos titulares do clube saísse.
Foi durante esse período que os dragões intensificaram a aposta no mercado sul-americano, ao contratarem jogadores como Radamel Falcao, James Rodríguez, Hulk ou Fredy Guarín. Os atletas eram sinalizados pelo departamento liderado por Luís Gonçalves e eram destacados empresários de confiança de Antero Henrique para conduzir as negociações.
Numa entrevista em 2013 a um jornal ucraniano, Gonçalves falou precisamente do exemplo de Falcao. "Quando ele jogava no River Plate ninguém imaginava que iria crescer até ao nível que cresceu. Sim, ele era um jogador promissor, mas não mais do que isso. O incrível progresso do Radamel mais uma vez vem provar que o nosso trabalho precisa da sorte. Estávamos no lugar certo à hora certa e ele veio para o FC Porto", contou.
Na mesma entrevista, o agora diretor-geral da SAD portista justificava o porquê da aposta no mercado sul-americano: "Podemos encontrar um monte de jogadores bons. Outra razão são os preços dos jogadores e os seus salários. Os brasileiros, uruguaios e colombianos são os que se adaptam mais rapidamente ao futebol português. A língua, as pessoas simpáticas... Em Portugal, os jogadores sul-americanos têm a possibilidade de evoluir e adaptar-se ao futebol europeu rapidamente. Por isso vêm não só para o FC Porto, mas também para outros clubes portugueses."
Segundo informações recolhidas pelo DN, a relação entre Antero Henrique e Luís Gonçalves sofreu alguns atritos quando ambos coincidiram no Dragão, com as divergências a acentuarem-se depois de o Benfica se ter sagrado campeão em 2009/10, interrompendo um ciclo em que o FC Porto foi tetracampeão. Pouco depois, Gonçalves aceitava a proposta do Shakhtar. Agora regressa pela porta que Antero deixou aberta.
A aventura no Shakthar
Foi precisamente o seu conhecimento do futebol brasileiro que levou o Shakthar Donetsk a contratá-lo em 2010. Numa altura em que o clube ucraniano já tinha uma declarada aposta em jogadores canarinhos, Sergei Palkin, diretor-geral, decidiu convidar Luís Gonçalves, atento à capacidade do FC Porto em descobrir talentos brasileiros.
Luís Gonçalves continuou, assim, a privilegiar o mercado brasileiro, embora não tenha propriamente descoberto talentos desconhecidos ou baratos. Taison, Fred, Fernando ou Bernard implicaram investimentos consideráveis, com a curiosidade de o Shakhtar ter "desviado" Bernard do FC Porto, em 2013, num negócio de 25 milhões de euros. E não foi o único: na altura o FC Porto tinha Fernando (Grémio) sinalizado. Mas Luís Gonçalves, que tinha autonomia na Ucrânia para decidir contratações do Shakhtar, antecipou-se. O observador fazia quatro a cinco viagens por ano ao Brasil, onde acompanhava competições de jovens jogadores, e anotava nomes a seguir com atenção.
No fecho do mercado da época passada, o Shakhtar conseguiu receitas de 96 milhões de euros, ao transferir os brasileiros Luiz Adriano, Fernando, Douglas Costa e Alex Teixeira. Esta receita permitiu, segundo o portal Transfermarkt, um saldo positivo superior ao Valência (83 milhões) e Marselha (69).
No entanto, se é certo que os quatro primeiros anos de Luís Gonçalves no Shakhtar coincidiram com quatro campeonatos conquistados, nos últimos dois anos o Dínamo Kiev sagrou-se bicampeão e ameaçou seriamente a hegemonia do rival na Ucrânia. Contactado por Pinto da Costa, Luís Gonçalves não hesitou em aceitar o convite do FC Porto.