O empresário que tem boas relações com os políticos

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Quando o pai Manuel Mota faleceu, havia quem achasse que o grupo não teria muito tempo de vida. António Mota e as suas três irmãs acabariam por se zangar e o conglomerado desmoronava-se. Já lá vão 14 anos, e hoje já não é só Mota e Companhia, mas sim Mota-Engil, ou seja, a empresa cresceu, comprou a Engil, tornando--se no maior grupo construtor nacional e num dos cem maiores a nível europeu e expandiu-se por mais de 20 países. Além disso, não há sequer rumores de conflitos entre António e as suas irmãs. Dizem os colaboradores do grupo que a Teresa, a Paula e a Manuela o tratam com o maior respeito profissional, como se não fossem da família, de tal forma que quando se referem a ele não falam "o meu irmão", mas sim o "engenheiro Mota". Elas são muito profissionais. E ele é um verdadeiro líder, dizem os seus colaboradores.

Como se conseguiu tudo isto? "É que todos nós temos um só negócio: a Mota-Engil, para o qual todos trabalhamos. E só discutimos nos momentos bons da empresa, nos maus não", explica António Mota, ainda presidente executivo do grupo, a quem o pai, em vida, quando fez partilhas, deixou a maior fatia da empresa e a sua liderança, compensando os restantes membros da família com outros negócios, como quintas e uma empresa de pescas. "Mas disse-me: 'Lembra-te sempre que quando todos estiverem contra ti é porque não tens razão'", recorda o gestor. Agora, com 54 anos, António Mota prepara-se para deixar a presidência executiva do grupo a quem nada tem a ver com a família, ao destacado socialista Jorge Coelho, que no Governo de Guterres, como ministro do Equipamento Social, teve a pasta das Obras Públicas e atribuiu à Mota as concessões de duas Scut (auto-estradas sem custos para o utilizador), tal como o jornal Expresso adiantou ontem. Nessa altura, era secretário de Estado Luís Parreirão, que há alguns anos é também gestor do grupo Mota. E não são os únicos políticos na empresa, Lobo Xavier, do CDS, também lá está. Em declarações ao DN, António Mota assume: "Tenho uma boa relação com políticos." Mas lembra: "Ganhei obras com todos os governos."

A opção de Jorge Coelho para a liderança da comissão executiva foi certamente muito debatida no grupo, porque António Mota, embora seja muito determinado, gosta de ouvir os quadros de que se rodeia sobre qualquer decisão, garante um seu colaborador. Contudo, alguns não aceitam esta sua ideia de passar a ser apenas chairman. António Mota alega que com a dimensão e a diversificação de áreas de negócio que atingiu, a Mota-Engil precisa mais dele como empresário, à procura de novas oportunidades, para o fazer crescer, do que como gestor. A gestão está bem entregue à equipa que tem, que considera de grande valor. Quanto à sucessão, espera ter tempo para a preparar. Para já, quer que sobrinhos e filhos, a trabalharem na empresa, sejam avaliados por outros que não ele. "Têm de provar o que valem", diz. Um caminho que ele também percorreu, e ao longo do qual só uma coisa o irritou: "Não ter conseguido que a Mota entrasse em Espanha."|

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