O DRIBLE DA FOCA

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OBrasil do futebol anda de olhos trocados e mente confusa com o "drible da foca". Faltavam 10 minutos para o fim do jogo entre o Cruzeiro e o Atlético de Minas Gerais (Galo, na gíria dos torcedores) quando Kerlon puxou a bola com a bota para a testa e torneou os defesas mineiros, conduzindo-a para a área num formidável drible executado com sucessivos toques de cabeça. O galo foi de Coelho que derrubou grosseiramente o menino fantasista e recebeu imediata ordem de expulsão. As imagens e o debate correm a Internet e a grande questão parece ser a de saber se a jogada é uma provocação, uma tentativa de humilhação, uma quebra de regras não escritas, ou um hino à criatividade. A coisa está feia para Coelho, o agressor, enquanto técnicos e jogadores tiram da cartola argumentos a favor e contra Kerlon. Até Dunga, o seleccionador do Brasil, a quem Sílvio Bassetti acaba de recordar, no Estado de São Paulo, um famoso chapéu colocado por Ronaldinho, veio explicar que não é contra o drible da foca, embora aconselhe o jovem atacante do Cruzeiro a usar, também, a flor de estilo "quando a sua equipa estiver a perder". Celso Roth, o treinador do Vasco, que recebe o Cruzeiro este domingo, introduz outra nuance: "se a jogada procurar o golo é meritória", mas os que vibram apenas com a finta inconsequente não vivem do futebol, "a sua vida não depende do que ocorre no campo". Se entendo Celso Roth, ele mostra algum desconforto que julgo ter detectado também no rosto de Camacho, no jogo contra a Naval, quando Di Maria levava a claque ao rubro com números de circo que nada produziam.

A LEI E A SELVA

Leão, o treinador do Galo, perdeu o jogo, perdeu Coelho e o agente do Foquinha ameaçou processá-lo gritando aos quatro ventos: "Leão é burro!".

O parágrafo anterior parece o início de uma fábula de Esopo. Na verdade, há neste caso qualquer coisa de fungagá da bicharada. Assim a cajadada crítica apanhe os coelhos necessários para contrariar a lei da selva. Mas anotemos o ponto de vista de Zico. O agora treinador do Fenerbache diz-se "favorável a qualquer drible pois isso é o que é lindo no futebol" e considera que, no jogo contra o Galo, Kerlon "vai sempre em direcção ao golo" criando muitas dificuldades aos defesas que não sabem desarmar bolas altas. Eu, que percebo o enfado de Camacho e as cautelas de Dunda, partilho a ideia do internauta para quem desrespeito maior que um drible audacioso é "uma parada mal intencionada". Aliás, o que me afasta dos estádios são os Coelhos, não as Focas. Por mais que me incomode um estádio aplaudindo, em êxtase, focas amestradas.|

*TSF

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