O dono da própria entrevista

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Quando bati à porta de sua casa, em Fevereiro de 2009, estava nervoso, apesar de ser mais uma entre dezenas de entrevistas. Só que esta era com um historiador, alguém que investigara e escrevera páginas que eu lera nos meus tempos de universidade, nuns livros emprestados por uma biblioteca distante de Portugal.

A entrevista fora marcada para o meio da tarde e passei as horas antes a prepará-la, com o pretexto oficial de estar a publicar-se o primeiro dos dois volumes intitulados Ensaios e Estudos - Uma Maneira de Pensar; e o oficioso, a possibilidade de falar com o autor daqueles livros pelos quais marrara ainda antes de existirem as súmulas esclarecedoras da Internet.

Quando abriram a porta, levaram-me para uma sala e mandaram-me esperar pelo professor. Mais ansiedade, até que entrou e se sentou no sofá onde o fazia habitualmente. A entrevista, achava eu, iria ter início. Rapidamente reparei que estava enganado. Era mais uma lição, na qual teria direito a levantar o dedo e a fazer uma ou outra das muitas perguntas que levava no bloco e pouco mais. Não é que não aceitasse ser questionado, existia era no seu ser demasiada interrogação para que precisasse também da minha. E fui-me deixando ir no seu falar, ouvindo afirmações contemporâneas e pouco preocupadas com a ciência História. Comentou os romances do Walter Scott; o Fim da História de Fukuyama; como utilizava a mais moderna tecnologia; o salário mínimo; a política do pós-25 de Abril; o recente Tratado de Lisboa... Dos Annales a que pertenceu; da expansão marítima que estudou a fundo ou do seu exílio, nada. Quando eu pensava que lhe ia embrulhar o passado numa "entrevista de vida", saiu-me o plano furado. O historiador Vitorino Magalhães Godinho preferia antes dar ao leitor a sua maneira de pensar o presente.

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