O direito à diferença

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Há alguns meses, a minha filha, professora de uma escola em Lisboa, contou-me que tinha ficado chocada com a reação dos seus alunos quando, para justificar algum comportamento de um dos meninos da turma, lhes disse que todos somos diferentes.

Quase em uníssono, a turma reagiu em força, dizendo: "Não professora, somos todos iguais!"

Fiquei a pensar neste episódio que me deixou perplexo e confuso com esta reação.

Estamos a ensinar aos nossos filhos - e netos - um erro colossal da realidade da vida.

Para tentarmos diminuir as injustiças criadas pela diferença, estamos a fingir que ela não existe e, assim, estamos a passar uma mensagem que deturpa a realidade, mas que nada faz para acabar com o tratamento desigual das pessoas.

Uma das maiores qualidades da espécie humana é exatamente a diferença que contém em cada um dos seus elementos.

As diferenças de interesses, de habilidades e competências, de criatividade e de realização, são os fatores que promovem o nosso desenvolvimento e que promovem a nossa caminhada para obter um futuro melhor.

A existência de defeitos em cada um de nós, que também eles são sempre diferentes, mostra-nos as nossas incapacidades e promovem a humildade, que é a maior qualidade que qualquer pessoa pode ter.

Saber que somos diferentes é fundamental para que possamos tentar copiar as qualidades que outros têm e que nos farão melhores, mas também aprender com os defeitos que outros têm para que não caiamos nos mesmos erros.

A sociedade, na sua evolução natural reconheceu que havia grandes injustiças resultantes destas diferenças.
O abuso sobre pessoas descapacitadas, o racismo, o machismo e muitas outras formas de maltratar as pessoas são situações que felizmente já foram identificadas, mas que a sociedade ainda não conseguiu resolver.

Ao contrário daquilo que as novas lideranças mundiais têm escolhido para resolver esta situação, e que foi pretender que essas diferenças não existem, deixando de definir as pessoas por raças ou etnias, promovendo a teoria de género e fingindo que o descapacitado é perfeitamente igual a qualquer outra pessoa, eu acredito que é amando a diferença que seremos capazes de ultrapassar esta questão.

Pretender que um louro é igual a um moreno, que o gordo é igual ao magro e que o careca é igual ao cabeludo, não tornou todos louros, não emagreceu os gordos, nem deu cabelo aos carecas.

Só aceitando as diferenças é que seremos felizes sendo morenos, gordos, carecas, louros, magros e cabeludos.

É na capacidade de amar que está a solução.

É no orgulho da diferença que vamos encontrar a força de sermos tratados sem injustiça.

É no orgulho de um país que tanto fez por essa igualdade, não de ser, mas de ser tratado, que devemos basear a solução desta injustiça.

Um país que com muitos erros, como cada um de nós, foi capaz de chegar a todo o Mundo, de criar sociedades multidiferenciadas que em muitos casos decidiram vir para cá viver e que se consideram cidadãos deste país, que assumem responsabilidades no seu desenvolvimento e mesmo na sua condução.

Outros que, com o seu trabalho, constroem este país.

Que sabem que são diferentes e que gostam das suas diferenças.

Que não querem ser iguais, mas que querem ser tratados com igualdade.


bruno.bobone.dn@gmail.com

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