O diplomata apanhado pelos acontecimentos

Livro dá conta de como Jaime Batalha Reis testemunhou a Revolução Russa em Petrogrado
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"Petrogrado todos serviços e instituições públicas em poder Bolcheviques Ministro Negócios Estrangeiros Preso (...) Palácio de Inverno bombardeado por fortalezas e cruzadores barricadas combates sanguinolentos nas ruas dia e noite." Este excerto é parte do telegrama enviado dia 8 de novembro de 1917 pelo diplomata creditado na Rússia, Jaime Batalha Reis. É apenas um entre dezenas de documentos coligidos em Jaime Batalha Reis (1917-1918) na Rússia dos Sovietes, obra do historiador Joaquim Palminha Silva publicada originalmente em 1984 e reeditada em setembro.

Com o subtítulo Dez dias que abalaram um diplomata português, em humorada alusão ao famoso Dez dias que abalaram o mundo, de John Reed, o livro recorre à correspondência diplomática do ministro plenipotenciário da legação lusa em Petrogrado, mas também à de outros sete diplomatas portugueses que, entre março de 1916 e agosto de 1918, escrevem sobre os acontecimentos na Rússia.

Palminha Silva (1945-2015) não se limita a transcrever os telegramas e relatórios: contextualiza e comenta. A conclusão é pouco menos que demolidora para o homem que foi admitido na carreira diplomática ao mesmo tempo que o amigo Eça de Queiroz, 1871. "Através da sua correspondência diplomática, põe o assento tónico com suspeita insistência no caráter de manequins alemães que lhe pareciam os bolchevistas, quando todo o diplomata ocidental em Petrogrado sabia ser de todo em todo falsa tal apreciação", aponta Palminha Silva.

O livro inclui o relato das aventuras por que passou Batalha Reis ao tentar sair da Rússia num comboio diplomático, através da Finlândia em guerra civil, primeiro, e depois por Murmansk, num navio que o levou a Newcastle: mais de dois meses de viagem de alguém que "soubera produzir o excelente prefácio para as Prosas Bárbaras de Eça de Queiroz" e que "falhou a reportagem da sua vida!".

O autor expõe também como a política externa portuguesa estava subordinada a Inglaterra. Um telegrama expedido de Lisboa para o embaixador em Londres informa que o governo português "pensa reconhecer" as instituições russas que saíram da revolução de março: "Peço V. Ex.ª o favor saber desse governo se este reconhecimento o contrariaria".

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