Gondomar. O dinossauro que volta a desafiar os principais partidos políticos
O surpreendente regresso de Valentim Loureiro à luta autárquica, após quatro anos de afastamento, abalou os cenários feitos pelos partidos. Mas a candidatura do major, após ultrapassar as impugnações judiciais do PS e da coligação PSD/CDS, recorreu agora ao Tribunal Constitucional por causa de uma irregularidade descoberta... por uma juíza de Gondomar.
Valentim Loureiro recorreu domingo da decisão - rejeição da lista para a Assembleia Municipal - que, a ser mantida, inviabiliza o acesso da sua candidatura à subvenção pública. Mas nem isso o afastará da corrida às urnas, onde o apelo que o major exerce em várias áreas do universo eleitoral de Gondomar coloca em dúvida a manutenção da maioria absoluta do PS, bem como os resultados que a coligação de direita pode ter.
Marco Martins, que há quatro anos recuperou para os socialistas um município perdido em 1993, diz estar "confiante que os gondomarenses irão manter a maioria absoluta do PS na câmara". Na base dessa afirmação está a convicção de que o eleitorado não esqueceu os milhões de dívida deixados pela equipa de Valentim Loureiro em 2013, nem os casos judiciais em que a autarquia acabou envolvida.
"Receio que voltar a associar-se o nome [de Valentim Loureiro] a Gondomar prejudique a construção de uma imagem diferente" da que existia "nos últimos mandatos" do major, refere o presidente da câmara. Marco Martins lembra mesmo que "um dos [seus] grandes trabalhos foi externamente dar uma imagem credível do concelho, para deixar de ser a porta do tribunal".
Valentim Loureiro presidiu durante três mandatos à câmara pelo PSD. Seguiram-se mais dois como independente, vencendo a coligação PSD/CDS e o PS, que se manteve como segunda força política.
"É uma candidatura desajustada no tempo de uma pessoa que foi presidente durante 20 anos", afirma Rui Nóvoa (BE), admitindo que "será alguma vingança" do major "contra alguém" - talvez contra o PS e o PSD, que em 2013 impugnaram o movimento independente "Valentim Loureiro - Gondomar no Coração", que era encabeçada por Fernando Paulo?
Para o candidato do BE, Valentim Loureiro "teve o seu tempo e nalguns aspetos pelos piores motivos" como líder do município, os quais passaram por "ter notícias de Gondomar à porta dos tribunais e notícias de pessoas vítimas de negócios feitos com a câmara" - como, exemplifica, o chamado "processo Quinta do Ambrósio" ou o parque de estacionamento no antigo mercado da Ariosa.
Valentim Loureiro rejeita entrar em polémicas. "Não faço comentários à atual gestão", diz ao DN, apesar de assumir que se o executivo PS tivesse melhorado as políticas dos seus executivos, "não teria decidido" recandidatar-se.
"Os meus 20 anos de gestão camarária foram marcados por muita obra e por um relacionamento muito próximo com todas e todos os gondomarenses", que são "quem melhor pode fazer tal comparação entre a gestão liderada por Valentim Loureiro e os últimos quatro anos", realça o ex-autarca.
Rafael Amorim, da coligação PSD/CDS, apresenta-se como "uma alternativa nova" para "projetar Gondomar no futuro", face ao que designa como "máquina do tempo". Na sua perspetiva, Valentim Loureiro "representa o passado" e Marco Martins "o presente da gestão corrente do dia a dia".
Para Daniel Vieira (CDU), "os problemas estruturais do presente do concelho não se resolvem com o regresso ao passado" que representa a candidatura do major. "Não queremos fazer juízos de valor, mas a questão central e política é que Valentim Loureiro não traz nada de novo, não tem nada para dar a Gondomar e aos gondomarenses", frisa o candidato comunista.
Acresce que "os problemas atuais são profundos e a atual câmara não foi capaz" de os resolver - como, elenca o deputado municipal, a falta de saneamento básico, "níveis significativos" de abandono e insucesso escolar ou ausência de ligação à rede de metro.
Sobre este ponto, Rafael Amorim manifesta estranheza com essa situação: "Este executivo é do PS, as autarquias vizinhas são do PS, o Governo é do PS, [Marco Martins] é o coordenador metropolitano dos Transportes e não conseguiu trazer o metro" de Fânzeres a São Cosme. O candidato assume depois a aposta na "classe média que paga impostos", considerando ser ponto assente que, em caso de vitória, vai pedir uma "auditoria externa" às contas da câmara "para perceber que dívida e que receitas há". O objetivo, explica, é saber como reduzir esse buraco financeiro - "grande parte" do qual "foi herdado do PS", que liderou a autarquia até 1993 - para definir a redistribuição das verbas sem "pôr em causa as prestações sociais".
Marco Martins, que recorda ter assumido a presidência com dívidas de "140 milhões de euros num orçamento de 70 milhões", frisa que "já abateu 50 milhões" apesar dos "mais 22 milhões de euros em condenações" judiciais.
Mas Valentim Loureiro contrapõe "duas explicações bem simples" para a dívida: metade foi contraída na anterior gestão socialista e junto da EDP; "a restante metade refere-se a investimentos feitos" por si em habitação social, pavilhões ou centros escolares.
Como sempre, concluem todos, caberá aos gondomarenses avaliar.