O difícil apuramento da verdade
Vamos pôr as coisas em pratos limpos acerca do quee deve entender-se por pressões exercidas sobre o trabalho de procuradores, que investigam um caso de particular melindre político. Não podemos estar a falar de uma conversa amena de café, na qual se trocam dichotes ou se atiram palpites ao ar. Não. Não são pressões, num caso como este, manifestar o desejo de que tudo se esclareça o mais rapidamente possível - o que é a vontade unânime de todas as pessoas de bem. Pressões pressupôem que alguém está em condições de premiar ou castigar aqueles que conduzem a investigação, consoante ajam desta ou daquela maneira.
No caso Freeport, o Conselho Superior do Ministério Público terá concluído, no inquérito presente, que existiram indícios suficientes de ter havido pressões. Estamos, portanto, numa situação de grande gravidade para a justiça e para a política portuguesas. Com possíveis repercussões internacionais, uma vez que o alvo do processo disciplinar ontem decidido, Lopes da Mota, é um alto quadro europeu. É por isso essencial que este processo disciplinar chegue a bom porto, e rapidamente. Sendo certo que não pode dar espaço a nenhuma ambiguidade acerca de quem fez e quem mandou fazer o que quer que tenha sido feito.
Resta acrescentar que, mais uma vez, houve fuga de informação acerca das conclusões do inquérito, antes de o óorgão competente dele tomar conhecimento - sendo certo que este jornal, cumprindo a sua função, transmitiu a informação. Este é mais um caso manchado pelo desrespeito das regras do jogo.
B ento XVI sabia, de antemão, que a sua visita ao Médio Oriente não iria ser fácil, dadas as cicatrizes com que os conflitos político-religiosos marcaram aquela região e os seus povos. Ao chegar a Israel, o Papa teve a confirmação da dificuldade da sua "peregrinação de paz".
A pressão dos dois lados - tanto dos judeus como dos palestinianos - tem vindo em crescendo desde o início da visita, no dia 8. Assim como as críticas. A condenação por Bento XVI do anti-semitismo e do Holocausto, tal como dos que o negam, não satisfez a maior parte dos judeus, a crer na imprensa israelita, que sublinha ainda o facto de o Papa alemão, na sua adolescência, ter sido membro da juventude hitleriana. Apesar desta atmosfera algo tensa, Joseph Ratzinger mantém aquele mesmo ar calmo que o caracteriza e prossegue com o seu itinerário, que traçou antes de deixar Roma: visitar e orar nos lugares santos de judeus e muçulmanos. Em defesa da construção da paz.
Bento XVI abriu mesmo um precedente ao ser o primeiro Papa a entrar na mesquita dourada ou Cúpula do Rochedo, muitas vezes referida como o terceiro local santo do islão por, segundo a tradição, o profeta Maomé daí ter ascendido aos céus. Orou também junto do Muro das Lamentações, o local sagrado para os judeus. Tudo para, de forma muito especial e determinada, defender Jerusalém como a "cidade universal da paz". Apenas isso.. .