Ó, diabo!

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Portugal a crescer mais do dobro da média europeia, com o terceiro saldo orçamental mais favorável dos 27 estados-membros da UE, e também no pódio dos países que mais diminuíram a sua dívida pública. Estas são as projeções da Comissão Europeia para a nossa economia, acompanhando as estimativas igualmente encorajadoras do FMI e da OCDE.

Porém, estes factos não parecem encaixar nas narrativas que nos têm sido vendidas pelos comentadores.

Uma delas postula que, afinal, os bons resultados do país são totalmente independentes da governação. Na prática, entenda-se, querem dizer que o governo é responsável por tudo o que corre mal e nada do que corre bem. Desafia a lógica, eu sei, mas de tanto o repetirem as pessoas começam a acreditar.

Mas temos de nos perguntar se sem o mecanismo ibérico, travão ao aumento dos preços da energia, e os apoios aos custos de produção, teria sido possível manter muitas empresas a funcionar (e milhares de empregos) no pico da crise energética? Sem a boa gestão orçamental, haveria a confiança necessária à captação de investimento para o país? Sem a aposta nas qualificações, em particular a democratização do acesso ao Ensino Superior (redução do valor das propinas; aumento do número de alunos; aposta na formação pós-graduada), como poderia a nossa economia ser cada vez mais competitiva?

Na verdade, essa narrativa é até absurda se tivermos em conta que Portugal cresceu sempre acima da média europeia desde 2016 - onde apenas 2020, pico da pandemia, foi exceção. O crescimento de 2023 não é, portanto, exceção; é a continuação do que tem acontecido desde que o PS está no governo (o que não acontecia antes).

Outra narrativa, mais frequente à esquerda, acusa o governo de estar demasiado focado em dados macroeconómicos, desatento às condições de vida das pessoas.

Em termos abstratos, há motivos para esta reflexão. A nível global, a evolução do PIB tornou-se a principal métrica de desempenho das economias, mas, em bom rigor, é um instrumento limitado que pode esconder desigualdades brutais.

Em termos concretos, porém, há dados claros de que o governo está tão empenhado em fazer crescer o bolo como em reparti-lo de forma justa. Seja pelo aumento recente das pensões, pela implementação de um ambicioso programa de habitação ou pela aprovação da agenda do trabalho digno - que aumenta a proteção social dos trabalhadores, estabelece a obrigatoriedade de remuneração para estágios profissionais, entre outros.

De facto, há narrativas que têm muita dificuldade em encaixar na realidade, mas, com Eleições Europeias à vista, a oposição tem de fazer prova de vida. Na IL, PCP e BE para afirmar as novas lideranças, que temem ter piores resultados que as anteriores. No PSD, porque Montenegro sabe que a oposição interna está à espreita, e não lhe perdoarão uma derrota. Todos os pretextos servem então para a dramatização.

Pelo seu lado, o governo tem sensivelmente um ano para fazer valer o seu trabalho, demonstrando que os factos são mais importantes do que as narrativas, que a vida concreta das pessoas vale mais do que os comentários televisivos. E que, no final, os votos nas urnas valem mais do que as sondagens. Quanto ao mais, o "diabo" continua sem aparecer.

A boa execução do PRR tem sido fundamental para reforçar o investimento - mais de 3% do PIB até 2024, disse o comissário Gentiloni - face a um contexto macroeconómico instável.

Eurodeputado

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