O dia em que a Trump Tower foi trocada pela outra

O aparato policial não engana: na 5.ª Avenida, entre as ruas 56 e 57, vive Trump desde 1983. Agora mudou-se para a Casa Branca, mas são muito os turistas que vieram tirar uma foto diante da sua torre.
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Parada diante da Trump Tower, do outro lado da Quinta Avenida, Dana apregoa com voz forte os emblemas que traz ao peito. "Dump Trump" é a mensagem, um "deixem cair Trump" que não dá margem para dúvidas sobre a posição desta mulher de gorro escuro com as letras brancas a dizer New York enterrando na cabeça. "Sou independente, mas acredito que com Trump vamos entrar em rota de colisão com a Rússia", explica a quem lhe pede para tirar uma fotografia.

Ainda nem são 09.00 (14.00 em Lisboa) e são já muitos os turistas que se juntam frente à torre de 58 andares mandada construir pelo agora presidente dos Estados Unidos na luxuosa e caríssima Quinta Avenida, entre as ruas 56 e 57. O aparato policial não deixa margens para dúvidas: é ali que Trump vive desde 1983, mas hoje [ontem], dia da sua posse como 45.º presidente dos EUA, o milionário trocou a sua famosa Penthouse pela Casa Branca.

Lá fora os polícias vão abrindo e fechando as correntes para deixar passar a multidão apressada que enfrenta o vento gelado e o frio da manhã - o termómetro na paragem de autocarro marca 39 graus Fahrenheit, menos de 4 graus Celsius - a caminho do trabalho. Indiferente, a quem vai passando, Dana continua a explicar "votei em Hillary mas dou uma hipótese a Trump. O problema é que ele é instável. Está a assustar os nossos aliados". Em dia de tomada de posse, não quis deixar de marcar o seu protesto e hoje garante que vai fazer tudo para estar na marcha das mulheres aqui em Nova Iorque, um protesto no feminino contra o novo presidente. "Trabalho à comissão. Se não trabalhar, não ganho, mas vou tentar ir", afirma a nova-iorquina, que faz no entanto questão de ressalvar um aspeto positivo da vitória de Trump a 8 de novembro: "Pelo menos acabou com a apatia!"

Atrás de Dana fica o espaço reservado para os jornalistas. Habitualmente cheio de repórteres que se acotovelaram nos últimos meses para relatar o dia-a-dia do presidente eleito, hoje está quase às moscas. Aqui e ali vê-se um operador de câmara. Os repórteres, a vir, só devem chegar mais tarde. Sinal de que a ação hoje [ontem] se mudou para Washington.

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Isso não impede Poppy e Matt de tirarem fotos à entrada da Trump Tower. Vieram de Southampton, em Inglaterra, e não quiseram deixar de ver a casa de Donald Trump. "É um grande dia", diz a britânica, gorro cinzento e olhos azuis demasiado maquilhados. Quanto à segurança, ela até esperava mais: "achei que não nos deixavam ficar parados aqui". E do novo presidente dos EUA? "Vamos ver", diz Matt, enquanto Poppy é mais perentória: "não espero nada de bom, por isso não pode ser pior do que imagino".

Com tanta polícia por todo o lado, para encontrar uma carrinha a vender cachorros quentes, é preciso subir um pouco a Quinta Avenida, até à Grand Army Plaza, logo antes do início do Central Park. Sem muitos clientes, a estas horas, o empregado não rejeita uma breve conversa mas diz logo que não vai dizer o nome. "Tem sido bom para o negócio", explica da vitória de Trump. "Há muita gente a parar e perguntar onde fica a Trump Tower".

Mas mesmo sem o seu mais famoso inquilino cá, a Trump Tower merece uma visita por dentro. Depois de passar a mala pela segurança, no interior, a presença policial é menos impressionante do que seria de esperar. Mas os dourados, esses, são tão impressionantes quanto seria de imaginar. À esquerda de quem entra estão os elevadores que as televisões tornaram famosos durante o entra e sai de candidatos a um lugar na nova Administração. E subindo as escadas, pode beber-se tranquilamente um cappuccino sentado num dos bancos acolchoados do Starbucks.

É o que Gonçalo Levy esteve a fazer. Veio da Argentina e quis vir conhecer a Trump Tower por dentro. "É muito ostentosa!" diz em espanhol, enquanto abotoa o casaco de penas.

Para já, Trump terá então de se habituar a trocar os dourados da Trump Tower pela decoração mais austera da Casa Branca. Mas a primeira dama Melania, essa, vai voltar para cá com o filho, Barron, de dez anos. E o aparato policial promete continuar na Quinta Avenida. Pelo menos até ao final do ano escolar.

Em Nova Iorque. A jornalista viajou a convite da FLAD

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