O dia de arrumar a despensa e preparar os próximos concertos

O que acontece no recinto do festival entre os dois fins de semana de concertos? Fomos espreitar.
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Silêncio. No Parque da Bela Vista, em Lisboa, até se ouvem os passarinhos. Não se ouve um martelo a bater ou uma máquina a funcionar. As nuvens afastaram-se durante a tarde e está um calor abafado, mas não é por isso que não se vê vivalma no recinto do Rock in Rio. "Estão todos no jogo de futebol", explica-nos Carmo Só, do departamento de comunicação do festival. O jogo de futebol é já uma tradição. Em todas as edições, entre o primeiro fim de semana de concertos e o segundo, a equipa do Rock in Rio ocupa o relvado do Estádio da Luz para uma partida. Foi ontem. O dia para todos descomprimirem um pouco antes de mais uma carga de adrenalina que se aproxima.

"Este é aquele momento em que aproveitamos para fazer o balanço dos primeiros dias de concertos, ver o que correu menos bem e o que pode ser melhorado, ao mesmo tempo que acertamos os pormenores para o próximo fim de semana", explica Roberta Nardes, a brasileira que coordena a produção geral do Rock in Rio e uma das poucas que não foram ao jogo de futebol e ficaram a trabalhar no recinto. "Felizmente não há muita coisa a mudar. Temos de repor alguma sinalética no exterior que desapareceu, fazer pequenos reparos, retocar umas pinturas, mas nada de muito complicado. São coisas simples mas temos de ficar de olho."

Roberta já trabalha na organização desde 2007 e, tal como ela, grande parte da equipa de produção já tem bastante experiência neste evento, por isso, neste momento, já há poucas coisas que os apanhem desprevenidos. "A máquina está muito bem oleada", garante. De tal forma que neste momento até já estão a planear a desmontagem - grande parte do trabalho fica pronto em três semanas, mas o recinto leva mais de um mês até ficar limpo.

Neste ano, o Rock in Rio está a testar um novo sistema de monitorização do recinto - o Vodafone Smart City - que permite prevenir algumas situações que noutras edições foram mais problemáticas. Por exemplo: os baldes do lixo têm um sensor e quando estão a ficar muito cheios emitem um aviso para a central, que, assim, pode mandar resolver a situação antes que o lixo comece a transbordar. O sistema permite ainda monitorizar a utilização das casas de banho, os fluxos de água do recinto e os gastos energéticos para identificar, em tempo útil, eventuais desperdícios.

Para a organização, o primeiro fim de semana de concertos foi um sucesso. Com 67 mil pessoas na primeira noite (com Bruce Springsteen) e 74 mil na segunda (com Queen), os números do festival são sempre brutais (ver ao lado), mas, por outro lado, apenas se registaram 240 ocorrências com atendimento de saúde e algumas ocorrências que exigiram a intervenção da segurança. "Tudo dentro do normal."

Quem também não parou de trabalhar nestes dias foi a equipa de Ingrid Berger, que trata dos camarins. "Para nós, em todos os dias de concerto, temos de começar do zero. Limpar todos os camarins, retirar tudo o que lá ficou, mudar os móveis porque há artistas que preferem sofás de pano e outros sofás de couro e esse tipo de coisas, e preparar os camarins para o artista que se segue." Neste momento, Ingrid já tem quase prontas as caixas para os próximos artistas: são caixas de plástico com etiquetas amarelas onde se lê Maroon 5, Alice Cooper ou Korn e onde vai colocando as batatas fritas, os sumos energéticos e os cafés que cada um pediu. A despensa está cheia, só faltam mesmo os produtos frescos. "Este é o momento para fazer as compras necessárias, mas temos sempre pedidos de última hora dos artistas. Aqui é a Suíça. Tudo o que os artistas pedirem, nós temos de arranjar." Ou quase tudo. Às vezes os pedidos são mesmo muito extravagantes e caros e Ingrid tem de contornar a situação. Como aquele que pediu quatro garrafas de champanhe Cristal que custam 175 euros cada. Ou outro que pediu mel de manuka, que custa qualquer coisa como 60 euros. Até mesmo na Suíça é preciso ter alguma contenção.

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