O destino da Grécia está nas mãos de Tsipras
Agora tudo depende de Alexis Tsipras. O primeiro-ministro grego decidirá em breve se quer ou não um acordo com os seus credores que permita a Atenas servir a sua dívida. Se ele disser que não, a Grécia entrará em incumprimento. Nessa altura é possível que o país tenha de sair da zona euro.
O que deveria Tsipras fazer? Ele lá saberá quais os seus constrangimentos políticos. Eu vou concentrar-me nos económicos. A resposta curta é: se o acordo for razoável, ele deverá aceitá-lo. Onde está então a linha divisória entre o razoável e o irrazoável?
A resposta direta é o que for preciso para acabar com a incerteza. Nenhum investidor vai pôr o seu dinheiro na Grécia enquanto houver uma ameaça de grexit - uma saída grega da zona euro. Para que um acordo seja viável terá de reduzir a probabilidade de um grexit para zero. O mesmo se aplica para as políticas necessárias se o senhor Tsipras disser "não". Nesse dia ele necessitará de um plano económico brilhante.
Assim, qual é o critério económico que ele deve aplicar na avaliação de qualquer oferta?
A parte mais importante do acordo diz respeito ao ajustamento orçamental que os credores da Grécia estão a pedir a Atenas para levar a cabo. A variável a procurar é o superávit primário - o equilíbrio orçamental antes do pagamento dos juros da dívida: basicamente o dinheiro que um país tem disponível para o serviço da dívida. Não existe um número objetivamente certo ou errado. Mas a experiência mostra que grandes superávits primários são politicamente insustentáveis. Foi a insustentabilidade do acordo anterior entre a Grécia, os seus credores europeus e o Fundo Monetário Internacional que levou o Syriza ao poder.
Ouvi um respeitado especialista neste tema proclamar recentemente que um superávit primário de 2,5% do produto interno bruto provavelmente funcionaria. Os gregos exigiram 1,5%, o que é uma oferta inicial razoável. Um dos chamados "documentos oficiosos" - documentos que as autoridades divulgam sem deixar impressões digitais - que estão a circular entre os negociadores mencionava um número de 3,5%, o que me parece demasiado elevado. Um superávit primário de 4,5% a partir de 2016, como era exigido no acordo de empréstimo anterior, é simplesmente absurdo.
A má gestão económica grega deu origem à crise de 2010, mas os credores são responsáveis pela atual confusão ao insistirem num programa de ajustamento economicamente inconsciente. Eles não levaram em conta o facto de a Grécia ser uma economia relativamente fechada. Isso significa que a maior parte do seu PIB é produzido e consumido internamente. Se se forçar uma economia dessas a uma austeridade extrema durante uma recessão, ela mantém--se agrilhoada. A chave para um renascimento económico grego tem de ser o fim da austeridade. É por isso que o grexit não é necessariamente também uma solução, uma vez que pode trazer ainda uma maior consolidação orçamental. A Grécia seria excluída dos mercados financeiros internacionais e ficaria impossibilitada de gerir um défice.
O que deveria acontecer agora é aquilo que deveria ter acontecido em 2010 e 2012 quando foram negociados respetivamente o primeiro e o segundo programas de empréstimos. Deveria ter sido permitido a Atenas entrar em incumprimento. Em vez disso, os credores ofereceram ao país um pacto com o diabo: nós ajudamos-vos na renovação da dívida e vocês terão superávits primários excessivos no futuro.
O que aconteceria se uma tal escolha fosse novamente apresentada ao senhor Tsipras e ele aceitasse? A Grécia sobreviveria ao verão sem entrar em incumprimento, mas necessitaria de um terceiro programa de ajuda financeira, em parte porque as suas finanças públicas se deterioraram muitíssimo desde janeiro. A probabilidade de este processo descarrilar a determinada altura é elevada. Assim como o é a probabilidade de os investidores saberem disso.
É por isso que eu sou cético em relação a mais uma ronda da desonestidade do "prorrogar e fingir", em que governos ou bancos concedem empréstimos com o pleno conhecimento de que nunca serão reembolsados. Funcionou uma vez. Há um ano os investidores estavam quase eufóricos. A Grécia recuperou o acesso aos mercados financeiros. O crescimento real passou, por pouco tempo, a positivo. Mas eles acharão mesmo que poderão repetir esse truque?
Eu duvido. Vejo três cenários plausíveis de recuperação. Primeiro, a Grécia consegue assegurar um acordo credível, com uma exigência de superávit primário razoável. Para que isto funcione, um tal acordo necessitaria do apoio político do senhor Tsipras, do Parlamento grego e da sociedade grega. Teria de ser à prova da oposição, pois o acordo teria de vigorar mesmo que o governo mudasse.
Um segundo cenário seria permitir que a Grécia entrasse em incumprimento, para que os credores impedissem mais qualquer transferência de dívida e para que a zona euro assumisse a equidade do sistema bancário grego. Se os bancos gregos já não forem propriedade interna e garantidos pelo governo, torna-se impossível forçar a saída da Grécia da zona euro. Um colapso do sistema bancário é a razão pela qual o grexit pode acontecer.
E, por fim, outra forma de afastar os receios de um grexit seria o grexit propriamente dito. Eu não seria a favor desta opção. Mas os credores devem perceber que isso não seria mais irracional do que a imposição de mais austeridade.